Muito interessante a proposta de narrar uma trama ficcional - com reconstituição de época - através do Super-8, meio que é, por si mesmo, linguagem. Amei os intertítulos e as evocações coletivas na produção, bem como os instantes de metalinguagem, em que vemos a equipe do filme reagindo às próprias filmagens, ao calor reivindicativo na exortação à fornicação como algo necessário e benfazejo. Muito, muito bom: conhecer estes trabalhos do Henrique Magalhães foi algo balsâmico, que cara incrível! (WPC>)
Que descoberta encantatória, que tesouro absoluto! Como nordestino, fui transportado para aquele maravilhoso ambiente praiano da Paraíba. Mesmo não gostando de Carnaval, entendi como a festa aparece na narrativa, enquanto catalisador das expectativas frustradas do protagonista, que chafurda no desamparo típico da Quarta-Feira de Cinzas, após um rechaço inesperado e mui desagradável. As imagens são lindas, os enquadramentos são inteligentes, o filme é pensado para ser marcante, para ser sentido e experimentado ao longo de revisões e memórias intimas. Amei - em mais de um sentido, inclusive: eu sou um ser que ama. O filme fez com que eu lembrasse disso, escancaradamente! (WPC>)
A idéia do guarda-chuva assassino é ótima. Como está chovendo muito onde moro, achei, além disso, oportuna em seu acavalamento de sustos. Porem, o diretor estreante revela-se extremamente inábil na construção de personagens e na condução das situações: os pretensos sustos não convencem; entediam, ao invés disso. Funciona enquanto videoclipe, mas falha em suas pretensões cinematográficas. Soa como um exercício de estilo sem envolvimento passional. Que o diretor prossiga! (WPC>)
Acontece muita coisa em pouco tempo, havendo inúmeras possibilidade de interpretação (e e redirecionamento pulsional) nas entrelinhas. O diálogo inicial é ótimo, trazendo para o primeiro plano, como de praxe, a opressão íntima desencadeada pela sobrecarga de trabalho. À medida que avança, o homoerotismo prometido pelo cartaz atinge níveis absolutos, ainda que novamente interditados pelas cobranças laborativas, com o adicional do ciúme alheio, das requisições por atenções institucionais. Como passa muito rápido, a reação imediata é a de querer mais, a de reclamar da celeridade. Mas, percebendo que estamos também imersos nesse ritmo de supressão dos desejos por conta da rotina empregatícia, o filme cresce bastante em lembranças idílicas. Uma fofura dolorida! (WPC>)
A conjuntura de época (olhar branco "autorizado" sobre as tradições populares) faz com que, em âmbito moral e julgamental, o filme não tenha envelhecido muito bem, naquilo que ele narra, expõe e comenta (exagerando tanto ou mais que a pantomima dos representados). Porém, a despeito disso, a condução é tão inteligente, o depoimento de Pelé é tão sintomático, a abordagem temática é tão necessária e a pesquisa é tão consistente que, mesmo não sendo o maior fã de futebol, saí da sessão encantado. Pena que só conheci este diretor após o seu falecimento: ele é incrível! (WPC>)
Aproveitando a deixa, tendo eu ficado sumamente deslumbrado perante SAGRADA FAMÍLIA, resolvi emendar este curta-metragem. Ainda que, obviamente, seja interessante enquanto manifesto - e, agora, também testamento - do realizador, não funciona tanto, parece um tanto engessando em suas intenções discursivas. Talvez eu gostasse mais se tivesse lido, ao invés de visto, não obstante a coleção de imagens do desfecho ser extraordinária, enquanto demonstração pragmática da tese, que soou mais eisensteiniana que vertoviana. Faz sentido! (risos) - WPC>
Os romenos sabem como abordar a dessacralização dos padres, numa sociedade reificada: se eu já ficara sumamente impressionado com a cena dos RGs em ALÉM DAS MONTANHAS, do Cristian Mungiu, reiterei o meu espanto neste curta-metragem, pelo modo como o pároco é interrompido, durante os ritos, ou pelas questões envolvendo declarações de impostos para doações à Igreja. Os atores são tão bons que até pensamos estar diante de um documentário. Que direção precisa, que roteiro contundente: Radu Jude é um mestre! (WPC>)
Assisti a este filme por acaso, num instante em que chovia, onde moro, e eu sofria as conseqüências de goteiras, de modo que eu fiquei muito tenso ao longo de toda a sessão: parecia que o curta-metragem tinha o triplo da duração, de tão tenso que eu fiquei. Temia que, a qualquer momento, o cinismo do diretor - eventualmente tendente à exposição da misantropia romena - explodisse em situações de violência emocional, mas, para o meu consolo, até que o desfecho é bonito, terno, otimista em parâmetros localizados. O elenco é incrível (são atores mesmo?!), as situações apresentadas são aflitivas e o ponto de partida é ótimo: nascia um maravilhoso diretor aqui! (WPC>)
O meu desconhecimento (na verdade, rechaço) quanto às situações que ocorrem nos bastidores das competições hípicas fez com que eu demorasse um pouco para "entrar" no filme e perceber que, através dele, Herzog denuncia algo muito mais generalizado, a ponto de afetar ate mesmo os flamingos... O jogo de ataques e repulsas entre os personagens é muito contundente. Mesmo que eu não tenha apreciado a contento, num contato inicial, é um curta-metragem psicanaliticamente poderoso. Voltarei a ele, noutro(s) momento(s)... (WPC>)
Exercício de terror inteligente e inventivo. Esse diretor promete, ainda que não seja o melhor ator disponível (risos). Em alguns sentidos, este filme prenuncia INCROYABLE MAIS VRAI, do Quentin Dupieux. Pena que seja tão curto, ficamos querendo mais após o término abrupto e interessante. Muito, muito bom! (WPC>)
Formalmente, o documentário tenta emular certo experimentalismo, quando seria muito interessante mesmo se aderisse ao tradicionalismo didático: os depoimentos do diretor homenageado são tão sóbrios e inteligentes - enquanto continuador de Erich von Stroheim e do Buñuel realista - que quedamos impactados perante o que é mostrado e confirmado. A montagem de cenas de obras do grande Ozualdo Candeias é muito oportuna. Um curta-metragem discreto porém assertivo. Para quem ama este gênio de nosso cinema, obrigatório! (WPC>)
Obcecado pelo diretor que sou, não conhecia este filme. O que tornou-se "explicável" nos primeiros segundos de projeção: em verdade, é um debate sobre curtas-metragens dados como perdidos, nem moldes que antecipam extras de DVD. Pouco a pouco, o que não se parecia considerar um filme em si (por conta do registro em vídeo, enquanto debate) torna-se uma obra exemplar, na qual o diretor demonstra uma erudição acachapante, com muitas críticas a uma concepção arrivista da Antropologia. Fiquei surpreso ao descobrir o "caminhoneiro da Boca do Lixo" tão afinado aos discursos acadêmicos, para que consiga implodi-los, de maneira inteligentíssima. Depoimentos magistrais, registros mui singulares de épocas e lugares, e um filme (sim, filme) obrigatório para se conhecer mais sobre a imponência deste grande realizador brasileiro! (WPC>)
A adaptação do conto original - que é uma espécie de reinvenção da parábola do Filho Pródigo - é muito eficiente: ficamos interessados no que vai acontecer a partir daquela predição paterna e, quando ocorre a reviravolta, ficamos impressionados frente à relevância da lição de moral acostada. Os traços em 3D são ótimos (o agradecimento, nos créditos finais, à equipe de alunos é oportuno e merecido) e, conforme percebi, o currículo do diretor possui vários títulos merecedores de interesse. Muito bom este primeiro contato! (WPC>)
Magnífico em abordagem e estrutura: parte de um pressuposto histórico grego, avança para uma atualização capitalista e termina na translação essencialmente brasileira, com todos os problemas associados ao quinhão de desigualdade derivado. Montagem incrível, direção de som idem. Além da narração fascinante e crítica do Paulo César Pereio. Adorei! (WPC>)
A narração do Pereio é ótima, e a explicação é assertiva e, de fato, otimista, como outras pessoas disseram. É acadêmico e convencional em pesquisa e formato, mas sensato e bem montado, contando com o talento organizador do Hirszman. Não conhecia. Achei uma graça! (WPC>)
Curto e divertido. Amei o instante em que a protagonista canta a música-título pela segunda vez e, ao término, recebe aplausos, consciente de que isso aconteceria. É um curta-metragem sobre a ciência da 'perfomance', a partir de uma personagem feminina eminentemente empoderadora. Uma fofura! (WPC>)
Gosto muito do longa-metragem original, do qual este excerto foi reaproveitado. Porém, não sei se compreendi bem a proposta e/ou se apreciei o rumo "instalativo" ao qual ele se propôs. Sou apaixonadíssimo pelo diretor, claro, mas este curta-metragem (se é que se pode dizer isso) não funcionou muito bem, em seu descolamento do projeto anterior, e adesão a um outro, quiçá forçado em seu despejo de capital simbólico-intelectual. Fascinante em seu potencial brechtiano, claro, mas mui decepcionante em termos de autenticidade autoral: em sua "manipulação", algo se perde, é danificado na atualização. Uma pena! (WPC>)
Não conhecia o filme nem o diretor. E, como de praxe, acho suspeitoso (ou não) que esteja viralizando agora. Faz sentido, para as convenções da época, a utilização do pretexto cômico para a exposição da nudez feminina, ofertada ao deleite dos espectadores masculinos. Mas não entendi a piada, não é um filme que sobrevive bem em suas intenções eróticas. Há algo de mui problemático nas relações de dominação apresentadas, seja entre o escultor e suas musas, seja no fato de que apenas um homem controla três mulheres. Enquanto curiosidade histórico-cinematográfica, entretanto, possui o seu charme... (WPC>)
Não conhecia este filme, fiquei impressionado perante a pujança de sua crítica: começa pelo fim, é sobremaneira inclemente na narração e culmina numa ironia esplêndida, após o despojamento forçado de todos os bens do protagonista, incluindo as suas roupas. Pesado, ainda que soe também engraçado. Magnífico! (WPC>)
Descobri este curta-metragem animado num DVD sobre "os amigos do Gato Fritz", e ri com os exageros rimados do gato protagonista, esculachado pelo corvo esperto que logo percebe que ele faz jus ao título: supersticioso ao extremo, tadinho. Fiquei curioso para conhecer mais sobre a equipe responsável: é bem divertido! (WPC>)
Um trabalho de pesquisa riquíssimo e uma narração prenhe de sensibilidade. Como sergipano, emocionei-me ao entrar e contato com registros de uma época que não vivi, mas cujos acontecimentos conheço através dos relatos apaixonados de amigos. A abertura do filme é muito boa, quando a diretora revela o acaso que lhe permitiu desenterrar um valioso tesouro. Há brincadeiras válidas com a montagem, mas, do meio para o final, algumas imagens são excessivamente reiteradas, tornando-se repetitivas, bem como o tempo excessivo concedido a uma apresentação contemporânea de dança, que, nalguns sentidos, compete com o que é trazido à tona em alguns depoimentos, no que tange ao desleixo hodierno do local representado. Os efeitos de envelhecimento imagético nem sempre funcionam (quando aparece alguém manuseando um telefone celular, por exemplo, soou mais que anacrônico, mas esteticamente problemático, sem propósito) e a trilha cancional está muito calcada em projetos similares do Kléber Mendonça Filho, tal como acontece com a divisão capitular. Afora isso, somente elogios à execução, à escolha dos entrevistados, à captação de "fantasmas" afetivos (num complemento descritivo mui acertado da realizadora) e à relevância do que é mostrado e emulado. Para quem não é do Estado e não conhece o CULTART, fica evidente o interesse do média-metragem, no que tange à rememoração bem-vinda, de algo sobremaneira marcante para a cultura sergipana. Por vezes, o filme assume ares de manifesto (quanto à demonstração do estágio atual de desuso do ambiente) e pode ser aproveitado como extensão reivindicativa, a fim de que apresentações semelhantes àquelas mencionadas voltem a ocorrer no local. De minha parte, estou na torcida. Gostei muito! (WPC>)
No começo, a impressão era a de que eu assistia a um extra dirigido por Paul Thomas Anderson, para um DVD da banda Sonic Youth. Pouco a pouco, fui notando que, ao documentar as reações das pessoas do colégio às "garotas sujas" do título - zineiras 'riot girls' -, o diretor registrava uma mudança geracional de paradigma, uma ascensão orgânica do feminismo adolescente, que abraça lutas transversais. importantíssimas para a fruição musical dos artistas que elas citam. Neste sentido, o filme é muito importante por aquilo que traz à tona, ainda que não o seja muito enquanto produto cinematográfico específico. Mas merece ser considerado como tão seminal quanto o PUNK ROCK HARDCORE, dirigido por Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Ao término da sessão, fiz questão de recomendá-lo a algumas amigas, que, obviamente, identificaram-se bastante. Uhuuuuu! (WPC>
Primeiro, uma confissão: da mesma maneira que, na Literatura, ainda tenho problemas de concentração/recepção com a Poesia, em Cinema, filmes silenciosos demoram um pouco para me cativarem. Foi o que aconteceu aqui. Porém, vamos ao segundo ponto: a despeito de meu travamento inicial, logo percebi a conjunção estilístico-imagética entre motes de Jonas Mekas e Jean Genet, numa conotação muito própria, em que a masturbação surge como tema e ônus, como solução e como perigo, como convite ao prazer e deixa para a perdição... O mito de Narciso é recontado de maneira belíssima e sensual, numa versão em curta-metragem que, estranhamente, era estranha para mim. Gostei, mas preciso voltar a ele, já sabendo do que se trata. Fascina, deveras: isso ninguém nega! (WPC>)
A sinopse promete mais que o filme entrega, no sentido de que a imersão no "plano improvável" soa um tanto infantilizado, numa crença de "salvação mundial" que, na prática, é menos funcional que aplicável. A interação entre o excelente trio de atrizes é muito bacana, mas o deslumbramento da personagem de Grace Passô traz à tona um problema de composição orgânica, no sentido de que sua argumentação lacradora beira o delírio, desperdiçando as possibilidades de interação com as demais irmãs. Ah, é um enredo sobre o surgimento de distúrbios psicológicos, acentuados pelo confinamento no contexto de poderio bolsonarista? Se for assim, talvez até sirva, enquanto contra-exemplo. Mas é um trabalho bastante inferior aos demais projetos da diretora! (WPC>)
Baltazar da Lomba
3.9 1Muito interessante a proposta de narrar uma trama ficcional - com reconstituição de época - através do Super-8, meio que é, por si mesmo, linguagem. Amei os intertítulos e as evocações coletivas na produção, bem como os instantes de metalinguagem, em que vemos a equipe do filme reagindo às próprias filmagens, ao calor reivindicativo na exortação à fornicação como algo necessário e benfazejo. Muito, muito bom: conhecer estes trabalhos do Henrique Magalhães foi algo balsâmico, que cara incrível! (WPC>)
Era Vermelho Seu Batom
3.6 2Que descoberta encantatória, que tesouro absoluto! Como nordestino, fui transportado para aquele maravilhoso ambiente praiano da Paraíba. Mesmo não gostando de Carnaval, entendi como a festa aparece na narrativa, enquanto catalisador das expectativas frustradas do protagonista, que chafurda no desamparo típico da Quarta-Feira de Cinzas, após um rechaço inesperado e mui desagradável. As imagens são lindas, os enquadramentos são inteligentes, o filme é pensado para ser marcante, para ser sentido e experimentado ao longo de revisões e memórias intimas. Amei - em mais de um sentido, inclusive: eu sou um ser que ama. O filme fez com que eu lembrasse disso, escancaradamente! (WPC>)
Karakasa
2.8 1A idéia do guarda-chuva assassino é ótima. Como está chovendo muito onde moro, achei, além disso, oportuna em seu acavalamento de sustos. Porem, o diretor estreante revela-se extremamente inábil na construção de personagens e na condução das situações: os pretensos sustos não convencem; entediam, ao invés disso. Funciona enquanto videoclipe, mas falha em suas pretensões cinematográficas. Soa como um exercício de estilo sem envolvimento passional. Que o diretor prossiga! (WPC>)
Sauna Day
2.5 1Acontece muita coisa em pouco tempo, havendo inúmeras possibilidade de interpretação (e e redirecionamento pulsional) nas entrelinhas. O diálogo inicial é ótimo, trazendo para o primeiro plano, como de praxe, a opressão íntima desencadeada pela sobrecarga de trabalho. À medida que avança, o homoerotismo prometido pelo cartaz atinge níveis absolutos, ainda que novamente interditados pelas cobranças laborativas, com o adicional do ciúme alheio, das requisições por atenções institucionais. Como passa muito rápido, a reação imediata é a de querer mais, a de reclamar da celeridade. Mas, percebendo que estamos também imersos nesse ritmo de supressão dos desejos por conta da rotina empregatícia, o filme cresce bastante em lembranças idílicas. Uma fofura dolorida! (WPC>)
Superstição e Futebol
3.8 1A conjuntura de época (olhar branco "autorizado" sobre as tradições populares) faz com que, em âmbito moral e julgamental, o filme não tenha envelhecido muito bem, naquilo que ele narra, expõe e comenta (exagerando tanto ou mais que a pantomima dos representados). Porém, a despeito disso, a condução é tão inteligente, o depoimento de Pelé é tão sintomático, a abordagem temática é tão necessária e a pesquisa é tão consistente que, mesmo não sendo o maior fã de futebol, saí da sessão encantado. Pena que só conheci este diretor após o seu falecimento: ele é incrível! (WPC>)
Um cinema caligrafico
2.5 1Aproveitando a deixa, tendo eu ficado sumamente deslumbrado perante SAGRADA FAMÍLIA, resolvi emendar este curta-metragem. Ainda que, obviamente, seja interessante enquanto manifesto - e, agora, também testamento - do realizador, não funciona tanto, parece um tanto engessando em suas intenções discursivas. Talvez eu gostasse mais se tivesse lido, ao invés de visto, não obstante a coleção de imagens do desfecho ser extraordinária, enquanto demonstração pragmática da tese, que soou mais eisensteiniana que vertoviana. Faz sentido! (risos) - WPC>
Shadow of a Cloud
3.5 1Os romenos sabem como abordar a dessacralização dos padres, numa sociedade reificada: se eu já ficara sumamente impressionado com a cena dos RGs em ALÉM DAS MONTANHAS, do Cristian Mungiu, reiterei o meu espanto neste curta-metragem, pelo modo como o pároco é interrompido, durante os ritos, ou pelas questões envolvendo declarações de impostos para doações à Igreja. Os atores são tão bons que até pensamos estar diante de um documentário. Que direção precisa, que roteiro contundente: Radu Jude é um mestre! (WPC>)
The Tube With a Hat
3.8 2Assisti a este filme por acaso, num instante em que chovia, onde moro, e eu sofria as conseqüências de goteiras, de modo que eu fiquei muito tenso ao longo de toda a sessão: parecia que o curta-metragem tinha o triplo da duração, de tão tenso que eu fiquei. Temia que, a qualquer momento, o cinismo do diretor - eventualmente tendente à exposição da misantropia romena - explodisse em situações de violência emocional, mas, para o meu consolo, até que o desfecho é bonito, terno, otimista em parâmetros localizados. O elenco é incrível (são atores mesmo?!), as situações apresentadas são aflitivas e o ponto de partida é ótimo: nascia um maravilhoso diretor aqui! (WPC>)
Medidas Contra Fanáticos
3.2 5O meu desconhecimento (na verdade, rechaço) quanto às situações que ocorrem nos bastidores das competições hípicas fez com que eu demorasse um pouco para "entrar" no filme e perceber que, através dele, Herzog denuncia algo muito mais generalizado, a ponto de afetar ate mesmo os flamingos... O jogo de ataques e repulsas entre os personagens é muito contundente. Mesmo que eu não tenha apreciado a contento, num contato inicial, é um curta-metragem psicanaliticamente poderoso. Voltarei a ele, noutro(s) momento(s)... (WPC>)
O Armário
3.6 19Exercício de terror inteligente e inventivo. Esse diretor promete, ainda que não seja o melhor ator disponível (risos). Em alguns sentidos, este filme prenuncia INCROYABLE MAIS VRAI, do Quentin Dupieux. Pena que seja tão curto, ficamos querendo mais após o término abrupto e interessante. Muito, muito bom! (WPC>)
O Olhar Singular de Ozualdo R. Candeias
3.7 1Formalmente, o documentário tenta emular certo experimentalismo, quando seria muito interessante mesmo se aderisse ao tradicionalismo didático: os depoimentos do diretor homenageado são tão sóbrios e inteligentes - enquanto continuador de Erich von Stroheim e do Buñuel realista - que quedamos impactados perante o que é mostrado e confirmado. A montagem de cenas de obras do grande Ozualdo Candeias é muito oportuna. Um curta-metragem discreto porém assertivo. Para quem ama este gênio de nosso cinema, obrigatório! (WPC>)
A América Do Sul
3.3 1Obcecado pelo diretor que sou, não conhecia este filme. O que tornou-se "explicável" nos primeiros segundos de projeção: em verdade, é um debate sobre curtas-metragens dados como perdidos, nem moldes que antecipam extras de DVD. Pouco a pouco, o que não se parecia considerar um filme em si (por conta do registro em vídeo, enquanto debate) torna-se uma obra exemplar, na qual o diretor demonstra uma erudição acachapante, com muitas críticas a uma concepção arrivista da Antropologia. Fiquei surpreso ao descobrir o "caminhoneiro da Boca do Lixo" tão afinado aos discursos acadêmicos, para que consiga implodi-los, de maneira inteligentíssima. Depoimentos magistrais, registros mui singulares de épocas e lugares, e um filme (sim, filme) obrigatório para se conhecer mais sobre a imponência deste grande realizador brasileiro! (WPC>)
Aziz
3.8 5A adaptação do conto original - que é uma espécie de reinvenção da parábola do Filho Pródigo - é muito eficiente: ficamos interessados no que vai acontecer a partir daquela predição paterna e, quando ocorre a reviravolta, ficamos impressionados frente à relevância da lição de moral acostada. Os traços em 3D são ótimos (o agradecimento, nos créditos finais, à equipe de alunos é oportuno e merecido) e, conforme percebi, o currículo do diretor possui vários títulos merecedores de interesse. Muito bom este primeiro contato! (WPC>)
Megalopolis
3.9 5Magnífico em abordagem e estrutura: parte de um pressuposto histórico grego, avança para uma atualização capitalista e termina na translação essencialmente brasileira, com todos os problemas associados ao quinhão de desigualdade derivado. Montagem incrível, direção de som idem. Além da narração fascinante e crítica do Paulo César Pereio. Adorei! (WPC>)
Ecologia
3.8 5A narração do Pereio é ótima, e a explicação é assertiva e, de fato, otimista, como outras pessoas disseram. É acadêmico e convencional em pesquisa e formato, mas sensato e bem montado, contando com o talento organizador do Hirszman. Não conhecia. Achei uma graça! (WPC>)
Não! Não! Mil Vezes Não!
3.8 1Curto e divertido. Amei o instante em que a protagonista canta a música-título pela segunda vez e, ao término, recebe aplausos, consciente de que isso aconteceria. É um curta-metragem sobre a ciência da 'perfomance', a partir de uma personagem feminina eminentemente empoderadora. Uma fofura! (WPC>)
In omaggio all`arte italiana!
2.6 1 Assista AgoraGosto muito do longa-metragem original, do qual este excerto foi reaproveitado. Porém, não sei se compreendi bem a proposta e/ou se apreciei o rumo "instalativo" ao qual ele se propôs. Sou apaixonadíssimo pelo diretor, claro, mas este curta-metragem (se é que se pode dizer isso) não funcionou muito bem, em seu descolamento do projeto anterior, e adesão a um outro, quiçá forçado em seu despejo de capital simbólico-intelectual. Fascinante em seu potencial brechtiano, claro, mas mui decepcionante em termos de autenticidade autoral: em sua "manipulação", algo se perde, é danificado na atualização. Uma pena! (WPC>)
O Sonho do Escultor
3.2 2Não conhecia o filme nem o diretor. E, como de praxe, acho suspeitoso (ou não) que esteja viralizando agora. Faz sentido, para as convenções da época, a utilização do pretexto cômico para a exposição da nudez feminina, ofertada ao deleite dos espectadores masculinos. Mas não entendi a piada, não é um filme que sobrevive bem em suas intenções eróticas. Há algo de mui problemático nas relações de dominação apresentadas, seja entre o escultor e suas musas, seja no fato de que apenas um homem controla três mulheres. Enquanto curiosidade histórico-cinematográfica, entretanto, possui o seu charme... (WPC>)
O Lento, Seguro, Gradual e Relativo Strip-tease do Zé Fusquinha
4.3 3Não conhecia este filme, fiquei impressionado perante a pujança de sua crítica: começa pelo fim, é sobremaneira inclemente na narração e culmina numa ironia esplêndida, após o despojamento forçado de todos os bens do protagonista, incluindo as suas roupas. Pesado, ainda que soe também engraçado. Magnífico! (WPC>)
O Gato Supersticioso
3.5 1Descobri este curta-metragem animado num DVD sobre "os amigos do Gato Fritz", e ri com os exageros rimados do gato protagonista, esculachado pelo corvo esperto que logo percebe que ele faz jus ao título: supersticioso ao extremo, tadinho. Fiquei curioso para conhecer mais sobre a equipe responsável: é bem divertido! (WPC>)
Entretempos, Entremeios
4.0 1Um trabalho de pesquisa riquíssimo e uma narração prenhe de sensibilidade. Como sergipano, emocionei-me ao entrar e contato com registros de uma época que não vivi, mas cujos acontecimentos conheço através dos relatos apaixonados de amigos. A abertura do filme é muito boa, quando a diretora revela o acaso que lhe permitiu desenterrar um valioso tesouro. Há brincadeiras válidas com a montagem, mas, do meio para o final, algumas imagens são excessivamente reiteradas, tornando-se repetitivas, bem como o tempo excessivo concedido a uma apresentação contemporânea de dança, que, nalguns sentidos, compete com o que é trazido à tona em alguns depoimentos, no que tange ao desleixo hodierno do local representado. Os efeitos de envelhecimento imagético nem sempre funcionam (quando aparece alguém manuseando um telefone celular, por exemplo, soou mais que anacrônico, mas esteticamente problemático, sem propósito) e a trilha cancional está muito calcada em projetos similares do Kléber Mendonça Filho, tal como acontece com a divisão capitular. Afora isso, somente elogios à execução, à escolha dos entrevistados, à captação de "fantasmas" afetivos (num complemento descritivo mui acertado da realizadora) e à relevância do que é mostrado e emulado. Para quem não é do Estado e não conhece o CULTART, fica evidente o interesse do média-metragem, no que tange à rememoração bem-vinda, de algo sobremaneira marcante para a cultura sergipana. Por vezes, o filme assume ares de manifesto (quanto à demonstração do estágio atual de desuso do ambiente) e pode ser aproveitado como extensão reivindicativa, a fim de que apresentações semelhantes àquelas mencionadas voltem a ocorrer no local. De minha parte, estou na torcida. Gostei muito! (WPC>)
Dirty Girls
4.3 5No começo, a impressão era a de que eu assistia a um extra dirigido por Paul Thomas Anderson, para um DVD da banda Sonic Youth. Pouco a pouco, fui notando que, ao documentar as reações das pessoas do colégio às "garotas sujas" do título - zineiras 'riot girls' -, o diretor registrava uma mudança geracional de paradigma, uma ascensão orgânica do feminismo adolescente, que abraça lutas transversais. importantíssimas para a fruição musical dos artistas que elas citam. Neste sentido, o filme é muito importante por aquilo que traz à tona, ainda que não o seja muito enquanto produto cinematográfico específico. Mas merece ser considerado como tão seminal quanto o PUNK ROCK HARDCORE, dirigido por Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Ao término da sessão, fiz questão de recomendá-lo a algumas amigas, que, obviamente, identificaram-se bastante. Uhuuuuu! (WPC>
Jerovi
3.5 1Primeiro, uma confissão: da mesma maneira que, na Literatura, ainda tenho problemas de concentração/recepção com a Poesia, em Cinema, filmes silenciosos demoram um pouco para me cativarem. Foi o que aconteceu aqui. Porém, vamos ao segundo ponto: a despeito de meu travamento inicial, logo percebi a conjunção estilístico-imagética entre motes de Jonas Mekas e Jean Genet, numa conotação muito própria, em que a masturbação surge como tema e ônus, como solução e como perigo, como convite ao prazer e deixa para a perdição... O mito de Narciso é recontado de maneira belíssima e sensual, numa versão em curta-metragem que, estranhamente, era estranha para mim. Gostei, mas preciso voltar a ele, já sabendo do que se trata. Fascina, deveras: isso ninguém nega! (WPC>)
O Nosso Pai
3.5 8A sinopse promete mais que o filme entrega, no sentido de que a imersão no "plano improvável" soa um tanto infantilizado, numa crença de "salvação mundial" que, na prática, é menos funcional que aplicável. A interação entre o excelente trio de atrizes é muito bacana, mas o deslumbramento da personagem de Grace Passô traz à tona um problema de composição orgânica, no sentido de que sua argumentação lacradora beira o delírio, desperdiçando as possibilidades de interação com as demais irmãs. Ah, é um enredo sobre o surgimento de distúrbios psicológicos, acentuados pelo confinamento no contexto de poderio bolsonarista? Se for assim, talvez até sirva, enquanto contra-exemplo. Mas é um trabalho bastante inferior aos demais projetos da diretora! (WPC>)