Até a primeira metade o filme é enfadonho e desinteressante incapaz de causar medo ou qualquer outro tipo de emoção. Da outra metade pro fim é mais do mesmo com ecos de O Grito e cinema oriental de horror sem um mínimo resquício de originalidade. E por não ter construído nada de sólido ou desenvolvido melhor os personagens a gente acaba não se importando com ninguém, então não tem peso, não tem consequência, não tem nada.
Também não faz o menor sentido os pais se comportarem como se comportam, se eles tivessem feito o mínimo como pais e se comportassem como pessoas normais não teriam gerado desconfiança contra eles e o "mal" não teria vencido. É óbvio que eles são estranhos pro filme gerar tensão e causar uma dúvida de quem é do bem de fato no telespectador mas o filme precisa ter coerencia. Porque eles são estranhos? Porque sim, porque no roteiro eles precisam ser. Algum sentido? Nenhum. Fora as coisas que ficam em aberto. Que corpo era aquele no quintal? E a menina que sumiu? Pra quê inserem isso e depois ignoram completamente? É só pra gente achar que a pessoa na parede é a menina em certa parte do filme, depois esquece que isso aconteceu. E porque essa criatura que diz ser filha do casal tem uma aparência e voz de adulta? O casal por acaso tinha 60 anos e tava completamente conservado?
Enfim, um ponto positivo foi terem escalado Anthony Starr na função de ser estranho e assustador. Depois do Homelander ele já provou ser muito capaz desse feito e aqui ele foi.
Eu tenho algumas ressalvas. Não gosto da divisão de capítulos estranhíssima que durante boa parte do filme é esquecida. Não gosto da narração que aparece no início de forma preguiçosa quando é conveniente pro roteiro e depois é ignorada completamente, não gosto quando um filme faz isso. Mas em geral é um filme maravilhoso que prende o expectador por quase 4 horas sem ter nenhum momento chato ou minimamente entediante. Adorei ver a temática sobre o amor e o cristianismo num filme japones feita dessa forma ácida com bastante humor. Adorei a citação a Corintios 13, que é uma das poucas razões porque eu não acho a Bíblia 100% ultrapassada, irrelevante e desinteressante. Corintios 13 é uma passagem linda que eu tive a honra de conhecer primeiro na voz de Renato Russo através da música Monte Castelo que juntava brilhantemente Bíblia com soneto de Camões. Resumindo, uma das coisas mais divertidas e interessantes que eu já assisti no YouTube. É isso mesmo que você leu, esse filme tá disponível completo no YouTube com legenda em português e uma qualidade de imagem bastante aceitável. Levando em conta meu lado emocional eu confesso que não atribuir nota 5 pra esse filme é uma das coisas mais difíceis que eu já fiz. Encerro o review da forma mais linda que eu posso, citando a tal passagem da Bíblia, com as palavras de quem foi mais feliz na escrita do que eu talvez jamais seja.
"¹ Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. ² E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. 1 Coríntios 13:1,2"
Que foda é o Ranjit! A realidade é dura e cruel mas ele vai lá e enfrenta tudo com uma calma e serenidade admirável. Enfrentando pessoas que falam as maiores barbaridades do mundo como se fosse normal. O outro personagem que me fascinou no mesmo nivel nessa mesma maratona do Oscar foi o Seu Hirayama de Dias Perfeitos. Mas tem uma pequena diferença importante entre os dois, o Ranjit é uma pessoa real. Espero que a justiça continue sendo feita em todas as varas possíveis, e desejo tudo de bom pro Ranjit, pra sua família e especialmente pra menina que foi a maior vítima dessa história.
Forte e perturbador ver as mortes. Nunca é aceitável a invasão de um país, a interferência na sua soberania e a morte de civis e pessoas comuns. Dito isso, espero que os membros da academia e o ocidente de modo geral não sejam hipócritas e reconheçam o horror do genocídio que ocorre na Palestina também. A vida dos ucranianos não é mais valiosa que a vida dos palestinos. Toda vida tem o mesmo valor. E dá pra se argumentar que na Palestina a situação é pior, pois o objetivo é claro de exterminar as pessoas, fazer um assassinato em massa e destruir toda a cidade delas, tudo que elas conhecem. Não tem justificativa, são mulheres, jovens, crianças, senhoras, civis... como é na Ucrânia. Quando alguém denunciar isso em um filme que esse filme receba o mesmo reconhecimento e a mesma indicação!
A história é super triste e chocante. E a forma que a diretora resolveu conta-la é genial, diretora essa que eu já tinha tido a honra de conhecer pelo excelente O Homem que Vendeu Sua Pele que concorreu ao Oscar anos atrás. Ela simplesmente junta entrevistas e relatos com dramatização, pessoas reais com atores criando quase um híbrido de ficção e documentário. O resultado é um filme excelente em conteúdo e em forma. Meu filme favorito da categoria de documentários.
A revelação da proximidade de uma figura política abominável com outra figura política abominável eu achei forçada, embora tenha existido uma proximidade de ambos na vida real, mas acho que isso funciona nesse contexto de sátira. Gosto da ideia de retratar um ditador como um vampiro e acho que isso podia ser ainda mais bem explorado na história. A fotografia é lindíssima e é super adequada a escolha do preto e branco imprimindo uma estética gótica e sombria.
Eu não sei se é por já ter conhecido antes a visão magistral do Villeneuve ou pelo teste do tempo, mas a visão do Jodorowski não me impressionou, tirando o visual e a direção de arte que de fato seria hipnotizante com potencial pra influenciar e revolucionar o cinema até hoje. Acho que algumas mudanças que o Jodorowski propõe em relação ao material original, especialmente o final, enfraquecem a obra do Frank Herbert e levam pra um lugar clichê e "fabulesco" que destoam muito da proposta da obra. Mas posso também tá contaminado pelo meu tempo, pode ser que isso naquela época fosse extremamente original e condizente, não tenho a vivência e nem bagagem o suficiente pra saber. E mesmo que eu não concorde com as mudanças, o Jodorowski tinha todo o direito de fazê-las, adaptação é isso, e eu gostaria muito de poder assistir apesar de tudo. Que alguém um dia financie essa produção mesmo que em animação.
Além de um elenco de primeira e de fotografia e aspetos técnicos impecáveis tem tanta coisa aqui no subtexto, o que é mérito do material fonte que continua surpreendentemente atual, tem debate sobre crença e ceticismo, tem crítica ao messianismo, à guerras santas, à colonialismo, à super exploração dos recursos naturais... mas o impacto foi tão grande que eu não consigo formular nada.
Me faltam palavras pra falar de Denis Villeneuve e de mais esse grande êxito na filmografia perfeita dele. Um épico como a muito tempo não se via.
Eu já nem acho mais que o filme é inconclusivo. Mesmo adaptando só metade do livro eu acho que o Villeneuve e quem roteirizou com ele conseguiram fechar num ponto que funciona como uma conclusão de arco perfeita. Do Paul desbravando esse novo mundo, passando por perdas, deixando de ser um simples "playboy" herdeiro de uma grande família, se entendendo como o Lisan al Gaib, o Kwisatz Haderach e por fim aceitando o seu destino, aceitando que faz parte daquele deserto agora. Eu juro que não consigo entender quem acha esse filme chato ou cansativo. O difícil pra mim é tirar os olhos da tela. É intriga política, é ação, é tensão, é segredos e dramas familiares, é religião misteriosa, é verme gigante...
Mal posso esperar pra assistir a segunda parte que eu tenho certeza que é ainda muito maior e melhor que tudo isso. Eu vivo pra aclamar e enaltecer o nome de Denis Villeneuve.
Yorgos Lanthimos encontrou nessa história, inspirada em Frankenstein, a justificativa perfeita pra fazer mais uma personagem que se comporta de um jeito estranho e pouco natural como ele adora fazer. A acidez, morbidade e crueza que ele tem como assinatura combina com o terror e o sombrio e também com a comédia. Aqui eu sinto que o negócio foi por esse segundo caminho, me peguei várias vezes rindo como quase nunca fiz na filmografia dele.
Mas não só fui capturado pelo humor, as implicações morais e filosóficas também não saíram da cabeça. Sobre criação, sobre sociedade... sobre o que é a Bella Baxter. Uma pessoa com mente de criança e corpo de adulto é criança ou adulta? Ela têm ou deve ter autonomia sobre suas decisões? Ter relações sexuais nesse corpo vai afetar o seu desenvolvimento e o seu emocional como aconteceria com crianças normais? E até o fato de o filme nunca revelar o gênero do bebê usado no experimento é uma decisão muito feliz porque cria ainda mais camadas, deixa tudo ainda mais complexo. Perceber sobre isso me levou a refletir sobre questões de gênero de um jeito e com uma intensidade que eu não refletia desde A Pele que Habito do Almodovar. Afinal como se comportaria um cérebro "masculino" num corpo "feminino" e vice versa? A pessoa seria do gênero da sua mente ou do seu corpo? E quanto a sua sexualidade? Esse filme acaba sendo um exemplo prático e didático pra ilustrar a transexualidade para leigos e intolerantes, pois o que seria Bella Baxter senão uma pessoa com uma mente e um corpo que não combinam um com o outro? E ainda tem questões sobre feminismo que daria pra esmiuçar.
Enfim, uma obra riquíssima tematicamente e em todos os aspectos e cheia da essência do cinema de Yorgos Lanthimos que a muito tempo me conquistou. Ou seja, perfeito!
Foi muito emocionante assistir a Vinheta da Toho e do Studio Ghibli no cinema pela primeira vez. Tava com saudades de ver um filme inédito do Miyazaki carregado com toda a sua essência.
Ele tem uma capacidade impressionante de criar personagens que já nascem visualmente icônicos como o personagem que é uma Garça. E também não podem faltar os personagens fofinhos que aqui são representados pelos warawara. O jeito que o filme lida no final com a questão do luto e da vida, de que ambos precisam ser vividos e sentidos e tudo tem que acontecer, me lembrou do A Chegada do Villeneuve. São lindos sob o mesmo prisma mas também únicos cada um a sua maneira.
Eu não tenho a menor dúvida de que esse filme é bastante autobiográfico, e se realmente for o último filme desse cineasta que eu amo (nunca é) é um ótimo jeito de encerrar sua filmografia. Mas dito isso, espero que mais uma vez não seja.
Eu fico dividido entre o quanto é legítimo contar essa história e empoderador pros africanos que tentam emigrar e o quanto não são só brancos europeus explorando a miséria e as mazelas dessas pessoas pra ganharem em cima disso e se sentirem melhores consigo mesmos ao passo que no processo acabam marginalizando esses povos, associando África á miséria, contribuindo pro inconsciente coletivo de que só existe pobreza e sofrimento por lá quando a realidade é bem mais complexa e impedindo que outros tipos de histórias africanas sejam contadas. Nesse mesmo ano saiu o filme American Fiction, que discorre e reflete maravilhosamente sobre essa mesma questão em relação aos afro-americanos e eu recomendo muito. Sobre esse, apesar de não duvidar da boa intenção e de adorar os momentos lúdicos de alucinação, eu tenho esse dilema interno que me impede de avaliar melhor.
Apaixonante o filme, apaixonante o seu Hirayama. Nunca imaginei que pudesse ser tão hipnotizante acompanhar a rotina diária de um senhorzinho comum. Saí do filme leve, acreditando na humanidade e completamente entusiasmado pra fazer a playlist do seu Hirayama naquela "loja" que ele não conhece, indo de The Animals a Nina Simone, de Otis Redding a The Velvet Underground... Imagino que um monte de gente deve ter tido a mesma ideia.
Uma experiência completamente angustiante e desconfortável a todo momento. É a terra e o céu enquadrados juntos e cada um deles contando uma história completamente diferente, algo que a arte do pôster foi bem feliz em imprimir. Não se espera que uma obra artística sobre o holocausto ainda pudesse tocar tanto, afligir tanto e aterrorizar tanto quase 80 anos depois do ocorrido, mas a verdade é que sempre vai aterrorizar e tem que continuar aterrorizando mesmo. O tamanho do horror que foi cometido, o tamanho do mal que foi causado jamais pode ser esquecido e jamais pode ser banalizado. Nunca vai ser aceitável o assassinato em massa de um povo inteiro, seja o povo que for, seja da nacionalidade que for, seja da religião que for, pela justificativa que for, seja por campo de concentração e câmera de gás, seja por bomba e míssil, seja ontem, seja hoje ou seja amanhã. O assassinato em massa de um povo inteiro NUNCA SERÁ ACEITÁVEL. O nome disso é genocídio, independente do povo que for vitimado.
É muito engraçado e ao mesmo tempo é genial. Todas as discussões complexas que o filme propõe e a metalinguagem que é uma coisa que sempre me pega... A daqui me lembrou do Adoráveis Mulheres da Greta Gerwig. Naquele caso o mérito foi todo da Greta que foi brilhante em adaptar o material fonte de forma totalmente nova e original. Nesse caso aqui não sei dizer porque não li a obra de origem mas de qualquer forma fica o elogio.
Gostei mais do que achei que fosse gostar. Bradley Cooper é um ator que convence, é um bom diretor. E Carey Mulligan é um espetáculo. Mas a minha "cinebiografia" de maestro favorita continua sendo a de Lydia Tár.
Uma história de amor foda de um jeito que Elementos nunca vai ser. Tá faltando pra Pixar (e pra outros estúdios de animação hollywoodianos) essa originalidade, essa sutileza, essa humanidade... Essa ousadia de fazer um filme de uma hora e meia sem nenhuma linha sequer de dialogo... Que aliás é uma decisão acertadíssima porque engrandece ainda mais tudo, passando a mensagem de forma prática que se trata de um tema universal. E a decisão de ser sobre robôs é perfeita porque se a natureza do relacionamento retratado por si só já é ambígua e aberta a interpretações, adicionando robôs na equação o negócio ganha ainda mais camadas que aí você é obrigado a superar e abandonar completamente o conceito de gênero. Então é amor romântico? É amizade? São do mesmo gênero? Não importa. É amor. Ponto. Não se julga o amor de uma pessoa pela outra, seja o tipo de amor que for, seja do gênero que for. Fica o mérito pra autora da obra original. E além de toda essa riqueza, esse mero filme de animação ainda ousa refletir sobre temas muito mais complexos e maduros que eu não vou discorrer aqui pra não entrar em terreno de spoiler. Eu só posso concluir, além de que esse é indubitavelmente um dos melhores filmes do ano, que Pixar, Disney e companhia precisam urgentemente se reinventar. Aprendam com os cineastas e realizadores independentes porque em 2023 um filme de animação de baixo orçamento ousou ser melhor que vocês.
Não é lá uma história muito original mas a direção do Park Chan-Wook engrandece pra caramba. Tem um monte de sacadas brilhantes na montagem e na fotografia. A transição que salta de uma cena penteando um cabelo pra um flashback numa caçada é uma das transições mais lindas e geniais que eu já vi num filme, só pra citar uma coisinha. Quem assistiu o filme vai saber do que eu tô falando.
Completamente apaixonado pelo cinema de Carolina Markowicz, por esse humor ácido absurdo intrínseco, essa coisa de pessoas comuns fazendo as maiores barbaridades do mundo como se não fosse nada. Só com Carvão e Pedágio, dois filmes, eu já sou fã convicto. Mal posso esperar pelo terceiro.
Assistir esse filme pela primeira vez só agora me passou uma sensação muito parecida com a de quando eu assisti o Tubarão do Spielberg pela primeira vez. Ambos os filmes fazem parecer um mero detalhe o fato de terem sido feitos a muitos, muitos anos atrás. Continuam ambos impressionantemente bem feitos e extremamente convincentes até os dias de hoje. Não deixam a dever em nada aos filmes de hoje em dia, pelo contrário são até ainda melhores que muito do que é feito hoje. O jeito que esses filmes desenvolvem e constroem primorosamente a tensão não é tão comum de se ver. E após assistir ambos os filmes você compreende o impacto que devem ter causado em suas respetivas épocas, você entende porque se tornaram clássicos e revolucionaram o cinema a ponto de inspirarem inúmeras continuações, e influenciarem centenas de filmes que viriam depois sobre tubarões, animais predadores e monstros no geral.
E isso tudo sem citar o subtexto genial sobre o holocausto nuclear e as bombas atômicas.
Quando eu descobri da existência desse filme e que era escrito pelo Charlie Kaufman eu fiquei maluco e fui assistir de cara num primeiro impulso com uma empolgação que poucos cineastas e realizadores conseguem me inspirar. E aqui tem tudo que é recorrente na filmografia do homem, mesmo sendo uma adaptação de uma obra pré existente é um prato cheio pra um fã. Tem surrealismo, subversão da narrativa, metalinguagem, reflexão sobre a vida e até uma leve pitada do recorrente humor ácido peculiar com
piadas envolvendo travesseiros, marretas e clorofórmio.
O visual é super criativo e imaginativo mas a animação é pobre pros padrões de 2024, com um pouco mais de ousadia e originalidade eu teria gostado mais. Apesar disso, depois de um pouco mais de meia hora de projeção eu já sabia que independente da nota que eu viesse a dar esse filme já tinha ganhado meu coração.
Se eu não tivesse me convencido da grandeza desse filme ao longo das três horas que se passaram eu teria me convencido pela genialidade e inventividade da sequência final e pela forma como o Scorsese encerra colocando cada gota de humanidade, solidariedade e respeito possível. É lindo.
Toc Toc Toc: Ecos do Além
2.6 237 Assista AgoraAté a primeira metade o filme é enfadonho e desinteressante incapaz de causar medo ou qualquer outro tipo de emoção. Da outra metade pro fim é mais do mesmo com ecos de O Grito e cinema oriental de horror sem um mínimo resquício de originalidade.
E por não ter construído nada de sólido ou desenvolvido melhor os personagens a gente acaba não se importando com ninguém, então não tem peso, não tem consequência, não tem nada.
Também não faz o menor sentido os pais se comportarem como se comportam, se eles tivessem feito o mínimo como pais e se comportassem como pessoas normais não teriam gerado desconfiança contra eles e o "mal" não teria vencido. É óbvio que eles são estranhos pro filme gerar tensão e causar uma dúvida de quem é do bem de fato no telespectador mas o filme precisa ter coerencia. Porque eles são estranhos? Porque sim, porque no roteiro eles precisam ser. Algum sentido? Nenhum.
Fora as coisas que ficam em aberto. Que corpo era aquele no quintal? E a menina que sumiu? Pra quê inserem isso e depois ignoram completamente? É só pra gente achar que a pessoa na parede é a menina em certa parte do filme, depois esquece que isso aconteceu. E porque essa criatura que diz ser filha do casal tem uma aparência e voz de adulta? O casal por acaso tinha 60 anos e tava completamente conservado?
Enfim, um ponto positivo foi terem escalado Anthony Starr na função de ser estranho e assustador. Depois do Homelander ele já provou ser muito capaz desse feito e aqui ele foi.
Love Exposure
4.2 93Eu tenho algumas ressalvas. Não gosto da divisão de capítulos estranhíssima que durante boa parte do filme é esquecida. Não gosto da narração que aparece no início de forma preguiçosa quando é conveniente pro roteiro e depois é ignorada completamente, não gosto quando um filme faz isso.
Mas em geral é um filme maravilhoso que prende o expectador por quase 4 horas sem ter nenhum momento chato ou minimamente entediante.
Adorei ver a temática sobre o amor e o cristianismo num filme japones feita dessa forma ácida com bastante humor.
Adorei a citação a Corintios 13, que é uma das poucas razões porque eu não acho a Bíblia 100% ultrapassada, irrelevante e desinteressante. Corintios 13 é uma passagem linda que eu tive a honra de conhecer primeiro na voz de Renato Russo através da música Monte Castelo que juntava brilhantemente Bíblia com soneto de Camões.
Resumindo, uma das coisas mais divertidas e interessantes que eu já assisti no YouTube.
É isso mesmo que você leu, esse filme tá disponível completo no YouTube com legenda em português e uma qualidade de imagem bastante aceitável.
Levando em conta meu lado emocional eu confesso que não atribuir nota 5 pra esse filme é uma das coisas mais difíceis que eu já fiz.
Encerro o review da forma mais linda que eu posso, citando a tal passagem da Bíblia, com as palavras de quem foi mais feliz na escrita do que eu talvez jamais seja.
"¹ Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
² E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
1 Coríntios 13:1,2"
Matar um Tigre
3.8 29 Assista AgoraQue foda é o Ranjit! A realidade é dura e cruel mas ele vai lá e enfrenta tudo com uma calma e serenidade admirável.
Enfrentando pessoas que falam as maiores barbaridades do mundo como se fosse normal.
O outro personagem que me fascinou no mesmo nivel nessa mesma maratona do Oscar foi o Seu Hirayama de Dias Perfeitos. Mas tem uma pequena diferença importante entre os dois, o Ranjit é uma pessoa real.
Espero que a justiça continue sendo feita em todas as varas possíveis, e desejo tudo de bom pro Ranjit, pra sua família e especialmente pra menina que foi a maior vítima dessa história.
20 Dias em Mariupol
3.9 57 Assista AgoraForte e perturbador ver as mortes.
Nunca é aceitável a invasão de um país, a interferência na sua soberania e a morte de civis e pessoas comuns.
Dito isso, espero que os membros da academia e o ocidente de modo geral não sejam hipócritas e reconheçam o horror do genocídio que ocorre na Palestina também.
A vida dos ucranianos não é mais valiosa que a vida dos palestinos. Toda vida tem o mesmo valor.
E dá pra se argumentar que na Palestina a situação é pior, pois o objetivo é claro de exterminar as pessoas, fazer um assassinato em massa e destruir toda a cidade delas, tudo que elas conhecem.
Não tem justificativa, são mulheres, jovens, crianças, senhoras, civis... como é na Ucrânia.
Quando alguém denunciar isso em um filme que esse filme receba o mesmo reconhecimento e a mesma indicação!
As 4 Filhas de Olfa
3.8 35 Assista AgoraA história é super triste e chocante.
E a forma que a diretora resolveu conta-la é genial, diretora essa que eu já tinha tido a honra de conhecer pelo excelente O Homem que Vendeu Sua Pele que concorreu ao Oscar anos atrás. Ela simplesmente junta entrevistas e relatos com dramatização, pessoas reais com atores criando quase um híbrido de ficção e documentário. O resultado é um filme excelente em conteúdo e em forma. Meu filme favorito da categoria de documentários.
O Conde
3.2 97 Assista AgoraA revelação da proximidade de uma figura política abominável com outra figura política abominável eu achei forçada, embora tenha existido uma proximidade de ambos na vida real, mas acho que isso funciona nesse contexto de sátira.
Gosto da ideia de retratar um ditador como um vampiro e acho que isso podia ser ainda mais bem explorado na história.
A fotografia é lindíssima e é super adequada a escolha do preto e branco imprimindo uma estética gótica e sombria.
Duna de Jodorowsky
4.5 143Eu não sei se é por já ter conhecido antes a visão magistral do Villeneuve ou pelo teste do tempo, mas a visão do Jodorowski não me impressionou, tirando o visual e a direção de arte que de fato seria hipnotizante com potencial pra influenciar e revolucionar o cinema até hoje.
Acho que algumas mudanças que o Jodorowski propõe em relação ao material original, especialmente o final, enfraquecem a obra do Frank Herbert e levam pra um lugar clichê e "fabulesco" que destoam muito da proposta da obra.
Mas posso também tá contaminado pelo meu tempo, pode ser que isso naquela época fosse extremamente original e condizente, não tenho a vivência e nem bagagem o suficiente pra saber.
E mesmo que eu não concorde com as mudanças, o Jodorowski tinha todo o direito de fazê-las, adaptação é isso, e eu gostaria muito de poder assistir apesar de tudo.
Que alguém um dia financie essa produção mesmo que em animação.
Duna: Parte 2
4.3 655Que experiência! Que espetáculo! Que visual!
Além de um elenco de primeira e de fotografia e aspetos técnicos impecáveis tem tanta coisa aqui no subtexto, o que é mérito do material fonte que continua surpreendentemente atual, tem debate sobre crença e ceticismo, tem crítica ao messianismo, à guerras santas, à colonialismo, à super exploração dos recursos naturais... mas o impacto foi tão grande que eu não consigo formular nada.
Me faltam palavras pra falar de Denis Villeneuve e de mais esse grande êxito na filmografia perfeita dele. Um épico como a muito tempo não se via.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraRevendo pela terceira vez pra assistir a segunda parte e o meu amor por esse filme só cresce.
Eu já nem acho mais que o filme é inconclusivo. Mesmo adaptando só metade do livro eu acho que o Villeneuve e quem roteirizou com ele conseguiram fechar num ponto que funciona como uma conclusão de arco perfeita. Do Paul desbravando esse novo mundo, passando por perdas, deixando de ser um simples "playboy" herdeiro de uma grande família, se entendendo como o Lisan al Gaib, o Kwisatz Haderach e por fim aceitando o seu destino, aceitando que faz parte daquele deserto agora.
Eu juro que não consigo entender quem acha esse filme chato ou cansativo. O difícil pra mim é tirar os olhos da tela.
É intriga política, é ação, é tensão, é segredos e dramas familiares, é religião misteriosa, é verme gigante...
Mal posso esperar pra assistir a segunda parte que eu tenho certeza que é ainda muito maior e melhor que tudo isso.
Eu vivo pra aclamar e enaltecer o nome de Denis Villeneuve.
Pobres Criaturas
4.1 1,2K Assista AgoraYorgos Lanthimos encontrou nessa história, inspirada em Frankenstein, a justificativa perfeita pra fazer mais uma personagem que se comporta de um jeito estranho e pouco natural como ele adora fazer.
A acidez, morbidade e crueza que ele tem como assinatura combina com o terror e o sombrio e também com a comédia. Aqui eu sinto que o negócio foi por esse segundo caminho, me peguei várias vezes rindo como quase nunca fiz na filmografia dele.
Mas não só fui capturado pelo humor, as implicações morais e filosóficas também não saíram da cabeça. Sobre criação, sobre sociedade... sobre o que é a Bella Baxter. Uma pessoa com mente de criança e corpo de adulto é criança ou adulta? Ela têm ou deve ter autonomia sobre suas decisões? Ter relações sexuais nesse corpo vai afetar o seu desenvolvimento e o seu emocional como aconteceria com crianças normais?
E até o fato de o filme nunca revelar o gênero do bebê usado no experimento é uma decisão muito feliz porque cria ainda mais camadas, deixa tudo ainda mais complexo. Perceber sobre isso me levou a refletir sobre questões de gênero de um jeito e com uma intensidade que eu não refletia desde A Pele que Habito do Almodovar. Afinal como se comportaria um cérebro "masculino" num corpo "feminino" e vice versa? A pessoa seria do gênero da sua mente ou do seu corpo? E quanto a sua sexualidade?
Esse filme acaba sendo um exemplo prático e didático pra ilustrar a transexualidade para leigos e intolerantes, pois o que seria Bella Baxter senão uma pessoa com uma mente e um corpo que não combinam um com o outro?
E ainda tem questões sobre feminismo que daria pra esmiuçar.
Enfim, uma obra riquíssima tematicamente e em todos os aspectos e cheia da essência do cinema de Yorgos Lanthimos que a muito tempo me conquistou.
Ou seja, perfeito!
O Menino e a Garça
4.0 218Foi muito emocionante assistir a Vinheta da Toho e do Studio Ghibli no cinema pela primeira vez.
Tava com saudades de ver um filme inédito do Miyazaki carregado com toda a sua essência.
Ele tem uma capacidade impressionante de criar personagens que já nascem visualmente icônicos como o personagem que é uma Garça. E também não podem faltar os personagens fofinhos que aqui são representados pelos warawara.
O jeito que o filme lida no final com a questão do luto e da vida, de que ambos precisam ser vividos e sentidos e tudo tem que acontecer, me lembrou do A Chegada do Villeneuve. São lindos sob o mesmo prisma mas também únicos cada um a sua maneira.
Eu não tenho a menor dúvida de que esse filme é bastante autobiográfico, e se realmente for o último filme desse cineasta que eu amo (nunca é) é um ótimo jeito de encerrar sua filmografia.
Mas dito isso, espero que mais uma vez não seja.
A Sala dos Professores
3.9 140 Assista AgoraAdorei! Em seus momentos mais inspirados me remeteu ao cinema de Asghar Farhadi
Eu, Capitão
4.0 70 Assista AgoraEu fico dividido entre o quanto é legítimo contar essa história e empoderador pros africanos que tentam emigrar e o quanto não são só brancos europeus explorando a miséria e as mazelas dessas pessoas pra ganharem em cima disso e se sentirem melhores consigo mesmos ao passo que no processo acabam marginalizando esses povos, associando África á miséria, contribuindo pro inconsciente coletivo de que só existe pobreza e sofrimento por lá quando a realidade é bem mais complexa e impedindo que outros tipos de histórias africanas sejam contadas.
Nesse mesmo ano saiu o filme American Fiction, que discorre e reflete maravilhosamente sobre essa mesma questão em relação aos afro-americanos e eu recomendo muito.
Sobre esse, apesar de não duvidar da boa intenção e de adorar os momentos lúdicos de alucinação, eu tenho esse dilema interno que me impede de avaliar melhor.
Dias Perfeitos
4.2 295 Assista AgoraApaixonante o filme, apaixonante o seu Hirayama.
Nunca imaginei que pudesse ser tão hipnotizante acompanhar a rotina diária de um senhorzinho comum.
Saí do filme leve, acreditando na humanidade e completamente entusiasmado pra fazer a playlist do seu Hirayama naquela "loja" que ele não conhece, indo de The Animals a Nina Simone, de Otis Redding a The Velvet Underground...
Imagino que um monte de gente deve ter tido a mesma ideia.
Zona de Interesse
3.6 602 Assista AgoraUma experiência completamente angustiante e desconfortável a todo momento.
É a terra e o céu enquadrados juntos e cada um deles contando uma história completamente diferente, algo que a arte do pôster foi bem feliz em imprimir.
Não se espera que uma obra artística sobre o holocausto ainda pudesse tocar tanto, afligir tanto e aterrorizar tanto quase 80 anos depois do ocorrido, mas a verdade é que sempre vai aterrorizar e tem que continuar aterrorizando mesmo. O tamanho do horror que foi cometido, o tamanho do mal que foi causado jamais pode ser esquecido e jamais pode ser banalizado.
Nunca vai ser aceitável o assassinato em massa de um povo inteiro, seja o povo que for, seja da nacionalidade que for, seja da religião que for, pela justificativa que for, seja por campo de concentração e câmera de gás, seja por bomba e míssil, seja ontem, seja hoje ou seja amanhã. O assassinato em massa de um povo inteiro NUNCA SERÁ ACEITÁVEL.
O nome disso é genocídio, independente do povo que for vitimado.
Ficção Americana
3.8 382 Assista AgoraÉ muito engraçado e ao mesmo tempo é genial.
Todas as discussões complexas que o filme propõe e a metalinguagem que é uma coisa que sempre me pega...
A daqui me lembrou do Adoráveis Mulheres da Greta Gerwig.
Naquele caso o mérito foi todo da Greta que foi brilhante em adaptar o material fonte de forma totalmente nova e original.
Nesse caso aqui não sei dizer porque não li a obra de origem mas de qualquer forma fica o elogio.
Maestro
3.1 260Gostei mais do que achei que fosse gostar.
Bradley Cooper é um ator que convence, é um bom diretor. E Carey Mulligan é um espetáculo.
Mas a minha "cinebiografia" de maestro favorita continua sendo a de Lydia Tár.
Meu Amigo Robô
4.0 86Uma história de amor foda de um jeito que Elementos nunca vai ser.
Tá faltando pra Pixar (e pra outros estúdios de animação hollywoodianos) essa originalidade, essa sutileza, essa humanidade...
Essa ousadia de fazer um filme de uma hora e meia sem nenhuma linha sequer de dialogo... Que aliás é uma decisão acertadíssima porque engrandece ainda mais tudo, passando a mensagem de forma prática que se trata de um tema universal.
E a decisão de ser sobre robôs é perfeita porque se a natureza do relacionamento retratado por si só já é ambígua e aberta a interpretações, adicionando robôs na equação o negócio ganha ainda mais camadas que aí você é obrigado a superar e abandonar completamente o conceito de gênero. Então é amor romântico? É amizade? São do mesmo gênero? Não importa. É amor. Ponto.
Não se julga o amor de uma pessoa pela outra, seja o tipo de amor que for, seja do gênero que for.
Fica o mérito pra autora da obra original.
E além de toda essa riqueza, esse mero filme de animação ainda ousa refletir sobre temas muito mais complexos e maduros que eu não vou discorrer aqui pra não entrar em terreno de spoiler.
Eu só posso concluir, além de que esse é indubitavelmente um dos melhores filmes do ano, que Pixar, Disney e companhia precisam urgentemente se reinventar.
Aprendam com os cineastas e realizadores independentes porque em 2023 um filme de animação de baixo orçamento ousou ser melhor que vocês.
Segredos de Sangue
3.5 1,2K Assista AgoraNão é lá uma história muito original mas a direção do Park Chan-Wook engrandece pra caramba. Tem um monte de sacadas brilhantes na montagem e na fotografia.
A transição que salta de uma cena penteando um cabelo pra um flashback numa caçada é uma das transições mais lindas e geniais que eu já vi num filme, só pra citar uma coisinha. Quem assistiu o filme vai saber do que eu tô falando.
Pedágio
3.7 72Completamente apaixonado pelo cinema de Carolina Markowicz, por esse humor ácido absurdo intrínseco, essa coisa de pessoas comuns fazendo as maiores barbaridades do mundo como se não fosse nada.
Só com Carvão e Pedágio, dois filmes, eu já sou fã convicto. Mal posso esperar pelo terceiro.
A Noite que Mudou o Pop
4.2 161 Assista AgoraSe eles tivessem conseguido trazer uma galera da terra da rainha também teria sido épico, outro nível, sem precedentes...
Mas foi foda como foi.
Godzilla
3.8 125 Assista AgoraAssistir esse filme pela primeira vez só agora me passou uma sensação muito parecida com a de quando eu assisti o Tubarão do Spielberg pela primeira vez. Ambos os filmes fazem parecer um mero detalhe o fato de terem sido feitos a muitos, muitos anos atrás.
Continuam ambos impressionantemente bem feitos e extremamente convincentes até os dias de hoje.
Não deixam a dever em nada aos filmes de hoje em dia, pelo contrário são até ainda melhores que muito do que é feito hoje. O jeito que esses filmes desenvolvem e constroem primorosamente a tensão não é tão comum de se ver.
E após assistir ambos os filmes você compreende o impacto que devem ter causado em suas respetivas épocas, você entende porque se tornaram clássicos e revolucionaram o cinema a ponto de inspirarem inúmeras continuações, e influenciarem centenas de filmes que viriam depois sobre tubarões, animais predadores e monstros no geral.
E isso tudo sem citar o subtexto genial sobre o holocausto nuclear e as bombas atômicas.
Orion e o Escuro
3.3 72 Assista AgoraQuando eu descobri da existência desse filme e que era escrito pelo Charlie Kaufman eu fiquei maluco e fui assistir de cara num primeiro impulso com uma empolgação que poucos cineastas e realizadores conseguem me inspirar.
E aqui tem tudo que é recorrente na filmografia do homem, mesmo sendo uma adaptação de uma obra pré existente é um prato cheio pra um fã. Tem surrealismo, subversão da narrativa, metalinguagem, reflexão sobre a vida e até uma leve pitada do recorrente humor ácido peculiar com
piadas envolvendo travesseiros, marretas e clorofórmio.
O visual é super criativo e imaginativo mas a animação é pobre pros padrões de 2024, com um pouco mais de ousadia e originalidade eu teria gostado mais.
Apesar disso, depois de um pouco mais de meia hora de projeção eu já sabia que independente da nota que eu viesse a dar esse filme já tinha ganhado meu coração.
Assassinos da Lua das Flores
4.1 615 Assista AgoraSe eu não tivesse me convencido da grandeza desse filme ao longo das três horas que se passaram eu teria me convencido pela genialidade e inventividade da sequência final e pela forma como o Scorsese encerra colocando cada gota de humanidade, solidariedade e respeito possível.
É lindo.