Mais exemplar do subgênero que ficou bastante popular na segunda metade dos anos 90 e que eu gosto de chamar de "Mamãe quero ser Seven". E entre todos os que já vi, esse daqui é o melhorzinho.
A caçada ao assassino é instigante e o ritmo crescente só melhora ela e a ideia por trás dos crimes também é bem original. É tudo tão bem feitinho que em alguns momentos até esquecemos que o filme é protagonizado por um ator fraquíssimo como o Christopher Lambert
(a canastrice do cara é tanta que uma cena que deveria ser triste e chocante, como o flashback da morte do filme, só conseguiu me deixar constrangido)
ou que a fotografia é escura ao ponto de você simplesmente não conseguir enxergar alguns detalhes em cena. E como todo exemplar de sua época, Ressurreição ainda tem aquela edição frenética e confusa que muitas achavam que era algo descolado, mas hoje só soa como um maneirismo ridículo.
Ainda assim, diverte. Inclusive, conseguiu enganar até enganar alguém já habituado com o gênero.
Quando vi o padre interpretado pelo David Cronenberg e percebi que os crimes tinham motivação religiosa, achei que tinha conseguido adivinhar quem era o assassino.
Como os reality shows ainda nem existiam, é interessante perceber como o formato do programa The Running Man se assemelha muito mais a um programa de auditório ou a uma game show.
Algumas pessoas podem usar isso para dizer que o filme ficou datado, para mim só mostra que ele é um fruto único de sua época, junto com a forma como a TV é usada como única janela para enxergar a realidade.
E no centro de tudo isso temos Arnold Schwarzenegger no seu ápice físico e de carisma, sempre munido de uma frase de efeito mais canastrona que a anterior.
Se tivesse sido mais imersivo, teria sido um filmaço. A proposta é muito boa e diferente da recente onda que tomou conta do terror, Entrevista com o Demônio se dedica mais em criar um clima de tensão do que em dar sustos baratos.
Se não fossem aquelas cenas nos bastidores, a tensão teria só aumentado. Aqueles momentos acabavam com o ritmo do filme, para não dizer que dificilmente haveria alguém filmando o que estava acontecendo por trás das câmeras. Acredito que uma solução melhor e que contribuiria para a imersão do espectador, seria mostrar os intervalos comerciais. Aí, entre uma propaganda e outra,
seriam feitas chamadas do noticiário comentando a morte do médium ou o aniversário do incêndio na seita que a menina fazia parte.
E apesar de Entrevista com o Demônio se esquivar da tendência dos sustos baratos, tem outra que ele abraça bem forte: o excesso de explicações. Com tudo que foi mostrado no começo e com todos os diálogos feitos durante a entrevista,
estava mais do que claro que o personagem de David Dastmalchian havia feito certos sacrifícios em nome da fama.
Aquele "flashback" no final, além de desnecessariamente expositivo, ainda coloca em dúvida a inteligência de quem está assistindo. Mas, se fosse realmente necessário deixar tudo explicadinho,
não teria sido mais catártico fazer o apresentador confessar tudo durante uma entrevista em vez de fazer aquele teatrinho?
Ainda assim, é uma experiência que vale a pena ser vista. Toda a contextualização da época é muito, com os chuviscos na imagem da TV e problemas de áudio. David Dastmalchian, com seu jeito acanhado e que vai aos poucos se mostrando inescrupuloso, torna o apresentador Jack Delroy uma figura fascinante de ser acompanhada. Só não é mais hipnótico que a performance de Ingrid Torelli, que com apenas um olhar vidrado e um sorriso no rosto consegue elevar a tensão de qualquer cena.
Uma DR que só serve pra gastar tempo de tela, já que a gente sabe desde o primeiro minuto qual será o destino do casalzinho.
E mesmo quando as cenas (bastante criativas, vale dizer) começam a acontecer, algumas são prejudicadas pela edição. Elas seriam muito mais empolgantes se não ficassem alternando entre cenas de outros personagens que muitas vezes não estão nem dentro da ação.
E não tenho dúvidas que o elenco se divertiu horrores durante as gravações. Se fosse para apostar, diria que vários dos diálogos foram improvisados pelos atores. Por um lado isso gera mais entrosamento entre eles, por outro, resulta em alguns momentos bem vergonha alheia.
O que funciona de verdade é a metalinguagem. Para quem é fã de cinema, principalmente do gênero de ação, há vários momentos que vão garantir um sorriso. É uma grande homenagem ao gênero e principalmente a quem faz ele acontecer, muitas vezes colocando a própria vida em risco.
Há muito coração e muito músculo em O Dublê, mas sugiro que ele vá ao oftalmologista, já que faltou um olhar mais acurado pra revisar alguns excessos do roteiro e deixar a edição mais dinâmica.
Num mundo perfeito, isso aqui teria virado uma franquia, com cada filme tendo um assalto num cenário absurdo: dentro de um vulcão, no topo do Everest, durante uma nevasca.
Acredito que a Ilumination já deve ter entendido que não precisa mais se esforçar para que a franquia faça sucesso. Basta colocar o Gru e os Minions em cena que o sucesso é garantido. Entendo que seja apenas um filme para crianças, ainda assim poderiam ao menos tentar fazer algo coerente. Fiquei com a impressão que eles já tinham pronto um roteiro para uma prequel do Gru e apenas resolveram aproveitar ele após o sucesso do primeiro Minions.
O primeiro, apesar de bom, era muito arrastado. Ele se passar praticamente inteiro naquela clareira comprometeu muito o ritmo do filme. Já este aqui não sofre do mesmo problema, é correria do começo ao fim com algumas cenas de ação muito bem elaboradas.
Aquela luta na vidraça contra com um infectado é de tirar o fôlego. Pena que a sequência final não ficou a altura, se resumindo apenas a um tiroteio básico.
A parte ruim de fazer algo tão desenfreado é que os personagens viram meros arquétipos em vez de serem trabalhados. O Thomas é o protagonista impulsivo, a Teresa é o interesse amoroso, o Newt é quem sempre contesta as decisões do Thomas, o Giancarlo Esposito é o coadjuvante com objetivos ambíguos e por aí vai.
Então, quando lá na frente a Teresa decide trair o grupo, apesar de bastante previsível (perceba como ela dá uma olhada demorada para um walkie-talkie quando eles estão fugindo da base da CRUEL), acaba soando vazio. O mesmo vale para o final, faz sentido o grupo querer resgatar o Minho, mas o personagem foi tão escanteado nessa sequência que o gancho dele ter sido levado pelos vilões não tem muito peso.
Imagine um buraco negro. Agora imagine que esse buraco negro, em vez de atrair matéria e luz, ele suga graça. Toda graça presente em qualquer cena ou ator é completamente obliterada por ele. Isto é Unfrosted, cujo título brasileiro é longo e sem criatividade de mais para eu me dar ao trabalho de escrever.
A comparação com o buraco negro é bem válida, inclusive, afinal eles nada mais são do que estrelas decadentes. E é exatamente isso que Jerry Seinfeld é: uma estrela decadente da comédia que é incapaz de dirigir ou atuar em uma cena com qualquer timing cômico. As supostas tiradas cômicas de Unfrosted são proferidas sem qualquer inflexão, quase como se Seinfeld fosse uma versão humana de gerador de voz desses que você encontra na internet.
E parte de sugar a graça também não é exagero, tem muito comediante talentoso que não consegue entregar uma cena minimamente engraçada por conta da direção e do texto desastroso de Jerry Seinfeld. Melissa McCarthy, James Marsden, Jon Hamm, Peter Dinklage, Hugh Grant e outros devem ter aceitado participar na hora por conta do nome do comediante à frente do projeto, e só perceberam a furada em que tinham se metido quando já tarde de mais.
Para dizer que nenhuma cena me fez rir, a referência a Mad Men me arrancou uma gargalhada sincera, ainda que tenha sido mais por eu adorar Don Drapper e sua série do que pela cena si ter qualquer graça.
Após ver tantas repises e vídeos compilando momentos de Seinfeld (a sitcom), só agora percebemos que assim como as estrelas que estão no céu, o brilho de Jerry já se apagou faz tempo.
Se fosse pra resumir numa só palavra, seria: bagunçado. É um filme que tenta ser tudo ao mesmo tempo, sem nunca desenvolver nada.
Tenta ser um encerramento para essa nova trilogia, tenta ser nostálgico ao trazer personagens icônicos de volta, tenta ser um blockbuster com locações globais (estilo Missão: Impossível), tenta ser um filme evento e por aí vai. E é até legal que tragam de volta aquela discussão sobre paternidade/maternidade do longa original, pena que ela fica perdida em meio a tanta coisa e mal é trabalhada.
E para fazer tudo isso "funcionar" em tela, tome diálogo expositivo, furos e conveniência de roteiro. Passagem de tempo e distância são praticamente inexistentes. Por exemplo, há uma cena em que os personagens do Chris Pratt e da DeWanda Wise atravessam quilômetros de geleira e floresta em provavelmente 15 minutos. E o que dizer do trio do primeiro Jurassic Park que é trazido de volta para se comportar como se estivessem num esquete do Zorra Total?
No entanto, a grande falha de Jurassic World: Domínio é sem dúvidas a Biosyn. A corporação malvadona que deveria ser a grande ameaça só faz passar vergonha, a começar pelo plano diabólico que praticamente coloca uma nuvem de gafanhotos em forma de seta apontando diretamente para eles. A segurança de sede deles, então, é uma piada. Há câmeras e seguranças para todo lado, só que se a pessoa tiver uma pulseira pode fazer de tudo sem se preocupar. Para fechar o pacote, o vilão do filme é simplesmente o personagem mais patético de toda franquia, com momentos de chilique que fariam um T-Rex se encolher de vergonha alheia.
Olha só, finalmente citei um dinossauro. Sabe por que isso aconteceu só agora? Porque eles são só um mero detalhe da trama. Enquanto nos filmes anteriores causavam espanto e deslumbramento, no capítulo final dessa segunda trilogia eles são apenas objetos de cena. Eles são armas, pets, parte da paisagem e até parte do sistema de segurança de uma multinacional. Só não são mais legais como eram em 1994.
É impressionante como esse filme tem apenas um ponto positivo, o visual e a maquiagem dos fantasmas, e ainda assim aquela edição frenética faz questão de estragar isso. Mal dá para ver os 13 fantasmas que dão nome ao filme de tão picotadas que são as cenas.
E chamar isso daqui de terror chega a ser uma piada tão ruim quanto aquelas que os personagens insistem em fazer a cada 30 segundos. Não dá medo em momento nenhum, em vez disso você só passa raiva com a burrice dos personagens e com o roteiro que não faz nenhum sentido.
Alguns comentários aqui fizeram eu me perguntar se eu havia assistido ao mesmo filme que algumas pessoas dessa rede social. Em nenhum momento vi Propriedade como um filme reacionário ou elitista, talvez essas pessoas estivessem esperando que pessoas pobres que foram exploradas a vida inteira e nunca tiveram nada fossem representadas como pobres bonzinhos e de coração puro. Seria uma abordagem bastante paternalista se fosse o caso.
Propriedade tem a coragem de mostrar trabalhadores em um regime análogo à escravidão se enfurecendo e revidando tudo que passaram ao longo de anos de exploração. Se resta alguma dúvida de quem é o verdadeiro vilão da história, lembre-se que o personagem do patrão comprou e blindou um carro novinho para sua esposa enquanto queria expulsar trabalhadores miseráveis de suas terras sem saber onde eles morariam e como sobreviveriam.
Se ainda assim você achar que ele é o mocinho da história, talvez o problema não esteja no filme.
A personagem de Malu Galli (que se entrega totalmente ao papel) representa aquela elite que talvez, só talvez, nem tenha culpa de nada, mas vive rodeada de conforto enquanto a alguns metros tem gente que está vivendo na miséria.
E diferente do que muitos estão dizendo, sim, Propriedade tem final.
Tereza finalmente conseguiu fugir dos olhares que a aterrorizavam, se fechando em seu conforto e deixando toda a feiura do mundo invisível aos seus olhos. Já os trabalhadores viram que há muito mais carros para enterrar até que a situação se resolva.
Mesmo não sendo o meu favorito do gênero, reconheço que O Exorcista é o filme de terror mais icônico de todos os tempos. Quando eu era criança ele já era um filme velho, e mesmo assim alguns colegas de sala falavam aos cochichos da experiência que era assistir à obra de William Friedkin. Mesmo nos dias de hoje, é um filme permanece perturbador por razões diversas, como cenas incômodas, a profanação de símbolos sagrados e a presença de uma criança em momentos pesadíssimos.
Aí corta pra 2023 e Blumhouse lança uma continuação que não poderia ser mais sem sal. Em nenhum momento O Exorcista - O Início chega perto de assustar ou criar qualquer tipo de tensão. É um terror básico que se utiliza da fama do original para atrair a audiência. Porque mais que uma sequência para o longa de 1973, Believer é um terror de shopping, e como tal não pode ter nada que dê muito medo, ou vai afastar os adolescentes (que, vale dizer, nem conhecem o original).
E como ele foi feito por uma legião de demôn... digo, executivos, ele atira para todos os lados na esperança de agradar o máximo de pessoas possível. Tem frase de cunho feminista (dita sem qualquer tipo de contexto), tem a exaltação da importância da fé, tem o retorno de personagens clássicos pra agradar os nostálgicos, tem um subtexto (nem um pouco sub) com uma mensagem antiaborto... Há até uma cena que eu gosto de chamar de
Vingadores da Fé, em que um representante de cada religião se une para expulsar os demônios. Se aquela cena tinha o intuito de criar qualquer tipo de tensão, ela só conseguiu me fazer rir.
Só tem uma coisa que esse novo O Exorcista não tem:
. A pressa da Blumhouse em querer faturar com a marca fez com que eles esqueceram do principal. Só que, olhando por outro lado, até que combina, afinal eles um fizeram um filme de terror sem terror.
Se fosse de qualquer outra pessoa, consideraria este aqui um filme de gosto duvidoso. Mas não, este filme de gosto duvidoso é de autoria de Paul Schrader, roteirista de Taxi Driver e Touro Indomável, então certamente há algo por trás dessas atuações penosas e desses diálogos vergonhosos.
A principal pista está nos créditos iniciais, em que vemos salas de cinema decadentes e caindo aos pedaços. As imagens se repetem várias vezes ao longo da produção e nos créditos finais. Não é por acaso. Vale do Pecado é um comentário de Schrader a respeito da decadência de Hollywood e do cinema como um todo. Ora, seus personagens são profissionais da indústria, só que em nenhum momento os vemos discutir os aspectos artísticos das produções. Os filmes são vistos apenas como uma forma de ganhar dinheiro ou notoriedade dentro da indústria. As atuações ruins (e, nossa, como o James Deen consegue ser ruim), a fotografia preguiçosa e o roteiro modorrento são apenas para complementar a experiência.
Ou talvez eu esteja apenas viajando e seja apenas ruim mesmo.
It Follows dos traumas, por conta da corrente que precisa ser passada adiante de um jeito ou de outro. E o que era só uma comparação inocente, afinal filmes sobre correntes e maldições existem desde que o mundo é mundo, foi confirmado na cena que entidade se agiganta ao assumir a forma da mãe da protagonista e precisa se abaixar para passar pelo batente da porta, idêntica a uma das cenas mais icônicas do longa de 2014.
Apesar de arrastado (15 ou 20 minutos a menos teriam deixado o ritmo bem melhor), Sorria conta com bons momentos e uma direção bastante competente. Gosto de como o surgimento dos traumas são sempre filmados em elipses ou semicírculos, começando a partir da cena causadora e dando a volta até chegar aos olhos de algum personagem. É um movimento que remete tanto a como costumamos internalizar situações quanto à natureza cíclica dos traumas, que sempre voltam ao longo das nossas vidas.
Tem seu charme, a começar pela oportunidade vermos o fantástico Ian McKellen interpretando o icônico detetive inglês. Só um grande ator como ele conseguiria dar tons tão distintos ao Sherlock Holmes sem perder a essência do personagem: sagaz e preciso em seus anos de atividade, enquanto na aposentadoria ele apresenta sinais de amargura e arrependimento, sempre munido pela lógica que fez ele ser amado no mundo inteiro.
E como sou leitor dos contos de Arthur Conan Doyle desde que criança, não pude deixar de me emocionar ao ver Holmes interagindo e inspirando um pequeno fã de suas histórias, popularizadas por Watson naquele universo (sacada simples e muito inteligente, por sinal). A partir desse contato com o jovem Roger, o já idoso Sherlock Holmes entende o valor da ficção e da imaginação para as pessoas.
Num mundo com tantos problemas sem solução, como pobreza, doenças e bombas que podem matar milhares de uma só vez (Holmes presenciando a destruição da bomba de Hiroshima é algo que eu nunca esperaria), ler as aventuras de um detetive e seu ajudante resolvendo casos impossíveis torna tudo mais suportável. Como nosso amado detetive aprendeu no final, a lógica pode até resolver alguns problemas, mas existem feridas que só uma boa história pode curar.
P.S.: Para quem gostou do filme, tem um conto do Neil Gaiman chamado "Caso de morte e mel" que também narra uma aventura do Sherlock Holmes mais idoso e que, curiosamente, também tem relação com abelhas.
A escalação do Woody Harrelson no papel do pai foi certeira, só ele para ser bonachão e conquistar nossa simpatia numa cena e, poucos segundos depois, nos assustar numa explosão de raiva,
como quando ele e o futuro genro começam uma disputa de queda de braço.
E como ele é o ponto de atrito de todo o filme, talvez outro ator comprometesse todo o restante.
O Castelo de Vidro é daqueles longos que nos deixa divididos após o seu término, como muitos fiquei com a impressão de que as atitudes tóxicas e nocivas do pai eram romantizadas. Só que então eu entendi que não era bem assim, todas as cenas eram bem claras a respeito do comportamento de Rex e sobre como elas prejudicavam sua família, principalmente as que envolviam alcoolismo.
O caso é que (e isso é pura especulação minha, já que essa parte não foi bem explorada)
Jeanette entendeu que seu pai, apesar de todos os traumas pelos quais passou, tentou dar uma boa educação para ela e seus irmãos. Como comentei, isso nunca é muito aprofundado, mas fica meio nas entrelinhas que Rex foi abusado quando criança e que isso o levou para o alcoolismo, impedindo que se tornasse uma pessoa bem sucedida que ele tinha todo o potencial para ser. Tanto que ele resiste sempre que sua esposa sugere que ele visite a casa de seus pais. E em sua ânsia de fugir dos próprios traumas, Rex acabou traumatizando os próprios filhos. É aquele velho dilema geracional: nós queremos ao máximo ser diferentes dos nossos pais, entretanto, uma hora ou outra nos tornamos eles.
Talvez tenha faltado alguns minutos para se aprofundar mais nessa questão, visto que um assunto importante desses não deve ficar nas entrelinhas. Ou talvez tenha ficado assim porque a própria autora do livro que deu origem a esse filme não sabe se foi isso que aconteceu com seu pai.
Se estende demais para dar o tempo mínimo de projeção, tanto que os créditos se alongam por 10 minutos para que a duração chegue perto dos 90 minutos. Teria sido um bom curta, só que faltou estofo pra ser um filme.
Poderia ter sido mais divertido se não se levasse tão a sério e nem fosse tão previsível. O trailer falso que inspirou esse filme tem um sendo de humor bem mais cáustico e diverte bem mais. Se salva pelas mortes, que até são bem criativas, ainda que em tempos de Terrifier não tenha nada muito chocante. E qualquer pessoa que tenha assistido meia dúzia de slashers consegue deduzir a identidade do assassino em 15 minutos.
Como bem disse o Choque de Cultura certa vez sobre o Esquadrão Suicida: - Fizeram um trailer belíssimo, aí depois inventaram de fazer aquela porcaria de filme.
só não entendi aquele segmento sobre o casamento que parece ter sido tirado de um filme do Tyler Perry
. É 15 minutos de algo que não acrescenta em nada à história, não tem nada ver com o Sonic e que depois é totalmente ignorado pelos outros personagens.
Se beneficia e é prejudicado, na mesma medida, pelos maneirismos do Nolan.
Como todo filme do diretor citado, Oppenheimer conta com um apuro estético e técnico de encher os olhos, tornando palpável a recriação de época onde é possível ver marcas de uso e desgaste em vários dos cenários e objetos de cena. E a parte sonora também não fica atrás, principalmente a trilha fora do convencional composta por Ludwig Göransson e os ótimos efeitos sonoros (infelizmente, a mim só resta imaginar como deve ter sido a vibração da detonação da bomba em um cinema).
O problema mesmo é como a história é contada. Nolan parece ter uma necessidade de complicar algo que poderia ser simples. Assim como seus longas anteriores, Oppenheimer tem uma quantidade desnecessária de explicações e diálogos expositivos. Algumas conversas entre personagens soam muito pouco naturais pelo excesso de informações bastante específicas, em certos momentos dá até pra pensar que estamos vendo robôs interagindo.
Outra semelhança com as demais obras do diretor é a fragmentação da trama em diversas timelines com cenas aleatórias pipocando na tela a todo momento. Tenho certeza que no papel isso tinha o objetivo de deixar tudo mais complexo, mas só serviu para dificultar qualquer tipo de apego que eu poderia ter aos personagens. Mortes, traições e tramoias políticas desfilam pela tela sem o menor impacto emocional.
Tudo melhora após a explosão-teste, que é quando o ritmo desacelera e podemos compreender melhor os sentimentos dos personagens e apreciar as atuações de Cillian Murphy e Robert Downey Jr. (já Emily Blunt entrou de penetra nas indicações ao Oscar). O problema é que até isso acontecer, lá se vão 2 horas de filme...
Erroneamente classificado por um certo programa de rádio como um filme "AnTi-LaCrAçÃo", American Fiction é uma sátira sobre como a elite e indústria cultural enxergam e permitem que os negros sejam representados. Tem um momento de poucos segundos que resume perfeitamente a mensagem, que é quando o protagonista está vendo TV e passa uma propaganda sobre os filmes do Mês da Consciência Negra, com várias cenas de protagonistas em situações de escravidão e sofrimento.
Monk, o protagonista sagazmente vivido por Jeffrey Wright, se revolta e tece críticas ferrenhas à forma como seus iguais são retratados
, só que, assim como todo mundo, no fim do mês ele também tem contas para pagar e entes queridos para cuidar. As necessidades de conforto e admiração sempre vão falar mais alto. O destino de sua revolta é ser cooptada pelo sistema para ser usada como mais uma forma de lucrar. Assim como ele já fez com a culpa pela escravidão. Resta a Monk, Sintara e outros a ilusão de que vão conseguir mudar as coisas de dentro para fora, mesmo que na real eles sejam apenas mais uma engrenagem do sistema.
Ressurreição: Retalhos de um Crime
3.6 152 Assista AgoraMais exemplar do subgênero que ficou bastante popular na segunda metade dos anos 90 e que eu gosto de chamar de "Mamãe quero ser Seven". E entre todos os que já vi, esse daqui é o melhorzinho.
A caçada ao assassino é instigante e o ritmo crescente só melhora ela e a ideia por trás dos crimes também é bem original. É tudo tão bem feitinho que em alguns momentos até esquecemos que o filme é protagonizado por um ator fraquíssimo como o Christopher Lambert
(a canastrice do cara é tanta que uma cena que deveria ser triste e chocante, como o flashback da morte do filme, só conseguiu me deixar constrangido)
Ainda assim, diverte. Inclusive, conseguiu enganar até enganar alguém já habituado com o gênero.
Quando vi o padre interpretado pelo David Cronenberg e percebi que os crimes tinham motivação religiosa, achei que tinha conseguido adivinhar quem era o assassino.
Kung-Fu Futebol Clube
3.5 232 Assista AgoraAdianta nada manjar dos kung fu e na hora de fazer gol só chutar em cima do goleiro.
O Sobrevivente
3.2 231 Assista AgoraComo os reality shows ainda nem existiam, é interessante perceber como o formato do programa The Running Man se assemelha muito mais a um programa de auditório ou a uma game show.
Algumas pessoas podem usar isso para dizer que o filme ficou datado, para mim só mostra que ele é um fruto único de sua época, junto com a forma como a TV é usada como única janela para enxergar a realidade.
E no centro de tudo isso temos Arnold Schwarzenegger no seu ápice físico e de carisma, sempre munido de uma frase de efeito mais canastrona que a anterior.
Entrevista com o Demônio
3.5 342Se tivesse sido mais imersivo, teria sido um filmaço. A proposta é muito boa e diferente da recente onda que tomou conta do terror, Entrevista com o Demônio se dedica mais em criar um clima de tensão do que em dar sustos baratos.
Se não fossem aquelas cenas nos bastidores, a tensão teria só aumentado. Aqueles momentos acabavam com o ritmo do filme, para não dizer que dificilmente haveria alguém filmando o que estava acontecendo por trás das câmeras. Acredito que uma solução melhor e que contribuiria para a imersão do espectador, seria mostrar os intervalos comerciais. Aí, entre uma propaganda e outra,
seriam feitas chamadas do noticiário comentando a morte do médium ou o aniversário do incêndio na seita que a menina fazia parte.
E apesar de Entrevista com o Demônio se esquivar da tendência dos sustos baratos, tem outra que ele abraça bem forte: o excesso de explicações. Com tudo que foi mostrado no começo e com todos os diálogos feitos durante a entrevista,
estava mais do que claro que o personagem de David Dastmalchian havia feito certos sacrifícios em nome da fama.
Aquele "flashback" no final, além de desnecessariamente expositivo, ainda coloca em dúvida a inteligência de quem está assistindo. Mas, se fosse realmente necessário deixar tudo explicadinho,
não teria sido mais catártico fazer o apresentador confessar tudo durante uma entrevista em vez de fazer aquele teatrinho?
Ainda assim, é uma experiência que vale a pena ser vista. Toda a contextualização da época é muito, com os chuviscos na imagem da TV e problemas de áudio. David Dastmalchian, com seu jeito acanhado e que vai aos poucos se mostrando inescrupuloso, torna o apresentador Jack Delroy uma figura fascinante de ser acompanhada. Só não é mais hipnótico que a performance de Ingrid Torelli, que com apenas um olhar vidrado e um sorriso no rosto consegue elevar a tensão de qualquer cena.
O Dublê
3.5 151Para um filme que se vende pelas cenas de ação exageradas, O Dublê demora para engrenar. São longos minutos de DR até começar a ficar empolgante.
Uma DR que só serve pra gastar tempo de tela, já que a gente sabe desde o primeiro minuto qual será o destino do casalzinho.
E mesmo quando as cenas (bastante criativas, vale dizer) começam a acontecer, algumas são prejudicadas pela edição. Elas seriam muito mais empolgantes se não ficassem alternando entre cenas de outros personagens que muitas vezes não estão nem dentro da ação.
E não tenho dúvidas que o elenco se divertiu horrores durante as gravações. Se fosse para apostar, diria que vários dos diálogos foram improvisados pelos atores. Por um lado isso gera mais entrosamento entre eles, por outro, resulta em alguns momentos bem vergonha alheia.
O que funciona de verdade é a metalinguagem. Para quem é fã de cinema, principalmente do gênero de ação, há vários momentos que vão garantir um sorriso. É uma grande homenagem ao gênero e principalmente a quem faz ele acontecer, muitas vezes colocando a própria vida em risco.
Há muito coração e muito músculo em O Dublê, mas sugiro que ele vá ao oftalmologista, já que faltou um olhar mais acurado pra revisar alguns excessos do roteiro e deixar a edição mais dinâmica.
No Olho do Furacão
2.5 150Num mundo perfeito, isso aqui teria virado uma franquia, com cada filme tendo um assalto num cenário absurdo: dentro de um vulcão, no topo do Everest, durante uma nevasca.
Minions 2: A Origem de Gru
3.4 144 Assista AgoraAcredito que a Ilumination já deve ter entendido que não precisa mais se esforçar para que a franquia faça sucesso. Basta colocar o Gru e os Minions em cena que o sucesso é garantido. Entendo que seja apenas um filme para crianças, ainda assim poderiam ao menos tentar fazer algo coerente. Fiquei com a impressão que eles já tinham pronto um roteiro para uma prequel do Gru e apenas resolveram aproveitar ele após o sucesso do primeiro Minions.
Maze Runner: Prova de Fogo
3.4 1,2K Assista AgoraO primeiro, apesar de bom, era muito arrastado. Ele se passar praticamente inteiro naquela clareira comprometeu muito o ritmo do filme. Já este aqui não sofre do mesmo problema, é correria do começo ao fim com algumas cenas de ação muito bem elaboradas.
Aquela luta na vidraça contra com um infectado é de tirar o fôlego. Pena que a sequência final não ficou a altura, se resumindo apenas a um tiroteio básico.
A parte ruim de fazer algo tão desenfreado é que os personagens viram meros arquétipos em vez de serem trabalhados. O Thomas é o protagonista impulsivo, a Teresa é o interesse amoroso, o Newt é quem sempre contesta as decisões do Thomas, o Giancarlo Esposito é o coadjuvante com objetivos ambíguos e por aí vai.
Então, quando lá na frente a Teresa decide trair o grupo, apesar de bastante previsível (perceba como ela dá uma olhada demorada para um walkie-talkie quando eles estão fugindo da base da CRUEL), acaba soando vazio. O mesmo vale para o final, faz sentido o grupo querer resgatar o Minho, mas o personagem foi tão escanteado nessa sequência que o gancho dele ter sido levado pelos vilões não tem muito peso.
A Batalha do Biscoito Pop-Tart
2.5 33Imagine um buraco negro. Agora imagine que esse buraco negro, em vez de atrair matéria e luz, ele suga graça. Toda graça presente em qualquer cena ou ator é completamente obliterada por ele. Isto é Unfrosted, cujo título brasileiro é longo e sem criatividade de mais para eu me dar ao trabalho de escrever.
A comparação com o buraco negro é bem válida, inclusive, afinal eles nada mais são do que estrelas decadentes. E é exatamente isso que Jerry Seinfeld é: uma estrela decadente da comédia que é incapaz de dirigir ou atuar em uma cena com qualquer timing cômico. As supostas tiradas cômicas de Unfrosted são proferidas sem qualquer inflexão, quase como se Seinfeld fosse uma versão humana de gerador de voz desses que você encontra na internet.
E parte de sugar a graça também não é exagero, tem muito comediante talentoso que não consegue entregar uma cena minimamente engraçada por conta da direção e do texto desastroso de Jerry Seinfeld. Melissa McCarthy, James Marsden, Jon Hamm, Peter Dinklage, Hugh Grant e outros devem ter aceitado participar na hora por conta do nome do comediante à frente do projeto, e só perceberam a furada em que tinham se metido quando já tarde de mais.
Para dizer que nenhuma cena me fez rir, a referência a Mad Men me arrancou uma gargalhada sincera, ainda que tenha sido mais por eu adorar Don Drapper e sua série do que pela cena si ter qualquer graça.
Após ver tantas repises e vídeos compilando momentos de Seinfeld (a sitcom), só agora percebemos que assim como as estrelas que estão no céu, o brilho de Jerry já se apagou faz tempo.
Jurassic World: Domínio
2.8 555 Assista AgoraSe fosse pra resumir numa só palavra, seria: bagunçado. É um filme que tenta ser tudo ao mesmo tempo, sem nunca desenvolver nada.
Tenta ser um encerramento para essa nova trilogia, tenta ser nostálgico ao trazer personagens icônicos de volta, tenta ser um blockbuster com locações globais (estilo Missão: Impossível), tenta ser um filme evento e por aí vai. E é até legal que tragam de volta aquela discussão sobre paternidade/maternidade do longa original, pena que ela fica perdida em meio a tanta coisa e mal é trabalhada.
E para fazer tudo isso "funcionar" em tela, tome diálogo expositivo, furos e conveniência de roteiro. Passagem de tempo e distância são praticamente inexistentes. Por exemplo, há uma cena em que os personagens do Chris Pratt e da DeWanda Wise atravessam quilômetros de geleira e floresta em provavelmente 15 minutos. E o que dizer do trio do primeiro Jurassic Park que é trazido de volta para se comportar como se estivessem num esquete do Zorra Total?
No entanto, a grande falha de Jurassic World: Domínio é sem dúvidas a Biosyn. A corporação malvadona que deveria ser a grande ameaça só faz passar vergonha, a começar pelo plano diabólico que praticamente coloca uma nuvem de gafanhotos em forma de seta apontando diretamente para eles. A segurança de sede deles, então, é uma piada. Há câmeras e seguranças para todo lado, só que se a pessoa tiver uma pulseira pode fazer de tudo sem se preocupar. Para fechar o pacote, o vilão do filme é simplesmente o personagem mais patético de toda franquia, com momentos de chilique que fariam um T-Rex se encolher de vergonha alheia.
Olha só, finalmente citei um dinossauro. Sabe por que isso aconteceu só agora? Porque eles são só um mero detalhe da trama. Enquanto nos filmes anteriores causavam espanto e deslumbramento, no capítulo final dessa segunda trilogia eles são apenas objetos de cena. Eles são armas, pets, parte da paisagem e até parte do sistema de segurança de uma multinacional. Só não são mais legais como eram em 1994.
13 Fantasmas
2.9 659 Assista AgoraÉ impressionante como esse filme tem apenas um ponto positivo, o visual e a maquiagem dos fantasmas, e ainda assim aquela edição frenética faz questão de estragar isso. Mal dá para ver os 13 fantasmas que dão nome ao filme de tão picotadas que são as cenas.
E chamar isso daqui de terror chega a ser uma piada tão ruim quanto aquelas que os personagens insistem em fazer a cada 30 segundos. Não dá medo em momento nenhum, em vez disso você só passa raiva com a burrice dos personagens e com o roteiro que não faz nenhum sentido.
Propriedade
3.7 87 Assista AgoraAlguns comentários aqui fizeram eu me perguntar se eu havia assistido ao mesmo filme que algumas pessoas dessa rede social. Em nenhum momento vi Propriedade como um filme reacionário ou elitista, talvez essas pessoas estivessem esperando que pessoas pobres que foram exploradas a vida inteira e nunca tiveram nada fossem representadas como pobres bonzinhos e de coração puro. Seria uma abordagem bastante paternalista se fosse o caso.
Felizmente, pelo menos para mim, não foi o caso.
Propriedade tem a coragem de mostrar trabalhadores em um regime análogo à escravidão se enfurecendo e revidando tudo que passaram ao longo de anos de exploração. Se resta alguma dúvida de quem é o verdadeiro vilão da história, lembre-se que o personagem do patrão comprou e blindou um carro novinho para sua esposa enquanto queria expulsar trabalhadores miseráveis de suas terras sem saber onde eles morariam e como sobreviveriam.
A personagem de Malu Galli (que se entrega totalmente ao papel) representa aquela elite que talvez, só talvez, nem tenha culpa de nada, mas vive rodeada de conforto enquanto a alguns metros tem gente que está vivendo na miséria.
E diferente do que muitos estão dizendo, sim, Propriedade tem final.
Tereza finalmente conseguiu fugir dos olhares que a aterrorizavam, se fechando em seu conforto e deixando toda a feiura do mundo invisível aos seus olhos. Já os trabalhadores viram que há muito mais carros para enterrar até que a situação se resolva.
O Exorcista: O Devoto
2.1 407 Assista AgoraMesmo não sendo o meu favorito do gênero, reconheço que O Exorcista é o filme de terror mais icônico de todos os tempos. Quando eu era criança ele já era um filme velho, e mesmo assim alguns colegas de sala falavam aos cochichos da experiência que era assistir à obra de William Friedkin. Mesmo nos dias de hoje, é um filme permanece perturbador por razões diversas, como cenas incômodas, a profanação de símbolos sagrados e a presença de uma criança em momentos pesadíssimos.
Aí corta pra 2023 e Blumhouse lança uma continuação que não poderia ser mais sem sal. Em nenhum momento O Exorcista - O Início chega perto de assustar ou criar qualquer tipo de tensão. É um terror básico que se utiliza da fama do original para atrair a audiência.
Porque mais que uma sequência para o longa de 1973, Believer é um terror de shopping, e como tal não pode ter nada que dê muito medo, ou vai afastar os adolescentes (que, vale dizer, nem conhecem o original).
E como ele foi feito por uma legião de demôn... digo, executivos, ele atira para todos os lados na esperança de agradar o máximo de pessoas possível. Tem frase de cunho feminista (dita sem qualquer tipo de contexto), tem a exaltação da importância da fé, tem o retorno de personagens clássicos pra agradar os nostálgicos, tem um subtexto (nem um pouco sub) com uma mensagem antiaborto... Há até uma cena que eu gosto de chamar de
Vingadores da Fé, em que um representante de cada religião se une para expulsar os demônios. Se aquela cena tinha o intuito de criar qualquer tipo de tensão, ela só conseguiu me fazer rir.
Só tem uma coisa que esse novo O Exorcista não tem:
um exorcista
Vale do Pecado
2.2 182 Assista AgoraSe fosse de qualquer outra pessoa, consideraria este aqui um filme de gosto duvidoso. Mas não, este filme de gosto duvidoso é de autoria de Paul Schrader, roteirista de Taxi Driver e Touro Indomável, então certamente há algo por trás dessas atuações penosas e desses diálogos vergonhosos.
A principal pista está nos créditos iniciais, em que vemos salas de cinema decadentes e caindo aos pedaços. As imagens se repetem várias vezes ao longo da produção e nos créditos finais. Não é por acaso. Vale do Pecado é um comentário de Schrader a respeito da decadência de Hollywood e do cinema como um todo. Ora, seus personagens são profissionais da indústria, só que em nenhum momento os vemos discutir os aspectos artísticos das produções. Os filmes são vistos apenas como uma forma de ganhar dinheiro ou notoriedade dentro da indústria. As atuações ruins (e, nossa, como o James Deen consegue ser ruim), a fotografia preguiçosa e o roteiro modorrento são apenas para complementar a experiência.
Ou talvez eu esteja apenas viajando e seja apenas ruim mesmo.
007: O Amanhã Nunca Morre
3.3 158 Assista AgoraJames Bond nada mais é do que um tiozão do pavê, sempre com piadinhas e trocadilhos na ponta da língua, que tem bastante sex appeal.
Sorria
3.1 853 Assista AgoraEnquanto eu assistia, só conseguia pensar como Sorria é o
It Follows dos traumas, por conta da corrente que precisa ser passada adiante de um jeito ou de outro. E o que era só uma comparação inocente, afinal filmes sobre correntes e maldições existem desde que o mundo é mundo, foi confirmado na cena que entidade se agiganta ao assumir a forma da mãe da protagonista e precisa se abaixar para passar pelo batente da porta, idêntica a uma das cenas mais icônicas do longa de 2014.
Apesar de arrastado (15 ou 20 minutos a menos teriam deixado o ritmo bem melhor), Sorria conta com bons momentos e uma direção bastante competente. Gosto de como o surgimento dos traumas são sempre filmados em elipses ou semicírculos, começando a partir da cena causadora e dando a volta até chegar aos olhos de algum personagem. É um movimento que remete tanto a como costumamos internalizar situações quanto à natureza cíclica dos traumas, que sempre voltam ao longo das nossas vidas.
Infelizmente, o final
joga fora toda essa construção e a mensagem de que devemos tratar nossos medos para que Sorria se transforme em mais uma franquia de terror.
Sr. Sherlock Holmes
3.8 329 Assista AgoraTem seu charme, a começar pela oportunidade vermos o fantástico Ian McKellen interpretando o icônico detetive inglês. Só um grande ator como ele conseguiria dar tons tão distintos ao Sherlock Holmes sem perder a essência do personagem: sagaz e preciso em seus anos de atividade, enquanto na aposentadoria ele apresenta sinais de amargura e arrependimento, sempre munido pela lógica que fez ele ser amado no mundo inteiro.
E como sou leitor dos contos de Arthur Conan Doyle desde que criança, não pude deixar de me emocionar ao ver Holmes interagindo e inspirando um pequeno fã de suas histórias, popularizadas por Watson naquele universo (sacada simples e muito inteligente, por sinal). A partir desse contato com o jovem Roger, o já idoso Sherlock Holmes entende o valor da ficção e da imaginação para as pessoas.
Num mundo com tantos problemas sem solução, como pobreza, doenças e bombas que podem matar milhares de uma só vez (Holmes presenciando a destruição da bomba de Hiroshima é algo que eu nunca esperaria), ler as aventuras de um detetive e seu ajudante resolvendo casos impossíveis torna tudo mais suportável. Como nosso amado detetive aprendeu no final, a lógica pode até resolver alguns problemas, mas existem feridas que só uma boa história pode curar.
P.S.: Para quem gostou do filme, tem um conto do Neil Gaiman chamado "Caso de morte e mel" que também narra uma aventura do Sherlock Holmes mais idoso e que, curiosamente, também tem relação com abelhas.
O Castelo de Vidro
3.8 269 Assista AgoraA escalação do Woody Harrelson no papel do pai foi certeira, só ele para ser bonachão e conquistar nossa simpatia numa cena e, poucos segundos depois, nos assustar numa explosão de raiva,
como quando ele e o futuro genro começam uma disputa de queda de braço.
O Castelo de Vidro é daqueles longos que nos deixa divididos após o seu término, como muitos fiquei com a impressão de que as atitudes tóxicas e nocivas do pai eram romantizadas. Só que então eu entendi que não era bem assim, todas as cenas eram bem claras a respeito do comportamento de Rex e sobre como elas prejudicavam sua família, principalmente as que envolviam alcoolismo.
O caso é que (e isso é pura especulação minha, já que essa parte não foi bem explorada)
Jeanette entendeu que seu pai, apesar de todos os traumas pelos quais passou, tentou dar uma boa educação para ela e seus irmãos. Como comentei, isso nunca é muito aprofundado, mas fica meio nas entrelinhas que Rex foi abusado quando criança e que isso o levou para o alcoolismo, impedindo que se tornasse uma pessoa bem sucedida que ele tinha todo o potencial para ser. Tanto que ele resiste sempre que sua esposa sugere que ele visite a casa de seus pais. E em sua ânsia de fugir dos próprios traumas, Rex acabou traumatizando os próprios filhos. É aquele velho dilema geracional: nós queremos ao máximo ser diferentes dos nossos pais, entretanto, uma hora ou outra nos tornamos eles.
Talvez tenha faltado alguns minutos para se aprofundar mais nessa questão, visto que um assunto importante desses não deve ficar nas entrelinhas. Ou talvez tenha ficado assim porque a própria autora do livro que deu origem a esse filme não sabe se foi isso que aconteceu com seu pai.
Vôo Noturno
3.3 587 Assista AgoraSe estende demais para dar o tempo mínimo de projeção, tanto que os créditos se alongam por 10 minutos para que a duração chegue perto dos 90 minutos. Teria sido um bom curta, só que faltou estofo pra ser um filme.
Matador de Aluguel
3.3 156 Assista AgoraÉ o filme de ação mais sensual de todos os tempos. E só não é mais sensual porque o Sam Elliott não está bigodudo.
Feriado Sangrento
3.1 406Poderia ter sido mais divertido se não se levasse tão a sério e nem fosse tão previsível. O trailer falso que inspirou esse filme tem um sendo de humor bem mais cáustico e diverte bem mais. Se salva pelas mortes, que até são bem criativas, ainda que em tempos de Terrifier não tenha nada muito chocante. E qualquer pessoa que tenha assistido meia dúzia de slashers consegue deduzir a identidade do assassino em 15 minutos.
Como bem disse o Choque de Cultura certa vez sobre o Esquadrão Suicida:
- Fizeram um trailer belíssimo, aí depois inventaram de fazer aquela porcaria de filme.
Sonic 2: O Filme
3.4 269 Assista AgoraÉ divertido e tal,
só não entendi aquele segmento sobre o casamento que parece ter sido tirado de um filme do Tyler Perry
Oppenheimer
4.0 1,1KSe beneficia e é prejudicado, na mesma medida, pelos maneirismos do Nolan.
Como todo filme do diretor citado, Oppenheimer conta com um apuro estético e técnico de encher os olhos, tornando palpável a recriação de época onde é possível ver marcas de uso e desgaste em vários dos cenários e objetos de cena. E a parte sonora também não fica atrás, principalmente a trilha fora do convencional composta por Ludwig Göransson e os ótimos efeitos sonoros (infelizmente, a mim só resta imaginar como deve ter sido a vibração da detonação da bomba em um cinema).
O problema mesmo é como a história é contada. Nolan parece ter uma necessidade de complicar algo que poderia ser simples. Assim como seus longas anteriores, Oppenheimer tem uma quantidade desnecessária de explicações e diálogos expositivos. Algumas conversas entre personagens soam muito pouco naturais pelo excesso de informações bastante específicas, em certos momentos dá até pra pensar que estamos vendo robôs interagindo.
Outra semelhança com as demais obras do diretor é a fragmentação da trama em diversas timelines com cenas aleatórias pipocando na tela a todo momento. Tenho certeza que no papel isso tinha o objetivo de deixar tudo mais complexo, mas só serviu para dificultar qualquer tipo de apego que eu poderia ter aos personagens. Mortes, traições e tramoias políticas desfilam pela tela sem o menor impacto emocional.
Tudo melhora após a explosão-teste, que é quando o ritmo desacelera e podemos compreender melhor os sentimentos dos personagens e apreciar as atuações de Cillian Murphy e Robert Downey Jr. (já Emily Blunt entrou de penetra nas indicações ao Oscar). O problema é que até isso acontecer, lá se vão 2 horas de filme...
Ficção Americana
3.8 386 Assista AgoraErroneamente classificado por um certo programa de rádio como um filme "AnTi-LaCrAçÃo", American Fiction é uma sátira sobre como a elite e indústria cultural enxergam e permitem que os negros sejam representados. Tem um momento de poucos segundos que resume perfeitamente a mensagem, que é quando o protagonista está vendo TV e passa uma propaganda sobre os filmes do Mês da Consciência Negra, com várias cenas de protagonistas em situações de escravidão e sofrimento.
Monk, o protagonista sagazmente vivido por Jeffrey Wright, se revolta e tece críticas ferrenhas à forma como seus iguais são retratados
, só que, assim como todo mundo, no fim do mês ele também tem contas para pagar e entes queridos para cuidar. As necessidades de conforto e admiração sempre vão falar mais alto. O destino de sua revolta é ser cooptada pelo sistema para ser usada como mais uma forma de lucrar. Assim como ele já fez com a culpa pela escravidão. Resta a Monk, Sintara e outros a ilusão de que vão conseguir mudar as coisas de dentro para fora, mesmo que na real eles sejam apenas mais uma engrenagem do sistema.