Lendo os comentários, percebe-se que o pessoal de fato não entendeu a proposta do documentário. Pelo visto, esperavam explicações sobre os trabalhos cinematográficos dele; afinal, é o que o subtítulo sugere. Francamente, acho que alguns fãs ainda esperam algo que Lynch já afirmou inúmeras vezes não estar disposto a dar: explicações mastigadas. Meio ingênuo, né?
O grande mérito do doc é justamente não cair nas tentações de se utilizar dos filmes famosos do diretor como elementos da narrativa. É simplesmente sensacional quando, por exemplo, a estrutura organiza harmonicamente passagens perturbadoras de sua vida com imagens de pinturas mais perturbadoras ainda. Só eleva coerência do que está sendo dito. Ainda assim, muita coisa aqui diz mais sobre a gênese de seu cinema experimental do que uma mera análise superficial pode proporcionar. Ligando os pontos certos, dá pra sacar o quanto as histórias que ele nos conta são reveladoras.
Não é difícil imaginar que a visão (sonho, pesadelo, delírio?) bisonha de uma mulher nua, ensanguentada e perambulando durante a noite pela rua, anos depois serviria de inspiração para a criação da personagem de Isabella Rossellini em Blue Velvet.
Lynch não julga suas interpretações dos filmes acima das do espectador. Sua arte fala por si só, e sempre admirei isso. Destrinchar um filme desse jeito, comprometeria não só grande parte do teor de subjetividade que ele carrega, como também o livre pensar de quem assiste. Não quero dizer, com isso, que o fato dele não fazer essa acepção signifique que não há uma intenção artística que antecede a obra - provavelmente há. Mas quando se trata de Lynch, a parada é muito mais sobre as sensações que aquilo te provoca do que sobre o que você consegue entender racionalmente.
Ouvi dizer que ele, que não é nenhum pouco chegado a entrevistas, aceitou a ideia de participar do projeto para que sua filha, Lula, até então com quatro anos, pudesse ter uma espécie de recordação da história de vida do pai, narrada por ele mesmo. Parece que o velhinho não faz muita coisa no dia a dia além de pintar e brincar com a pequenina. O que vi foi um homem que pinta solitária e intensamente, uma pessoa estranhamente apática com relação ao mundo que vivemos. Gosto da imagem dele contemplando o vazio em meio a uma nuvem de fumaça, mas não me parece a mesma figura que um dia chegou a assustar o próprio pai.
“David, I don't think you should have children.”
Não só teve, como ela herdou o talento pai, hahaha.
Vida longa a uma das vozes autorais mais reconhecidas e fascinantes da sétima arte!!!
Pira louquíssima. Gostando ou não, é uma perspectiva diferente de como se daria a decadência moral da sociedade em um contexto pós-apocalíptico. Mesmo sem ter pescado totalmente a real proposta da coisa, gostei razoavelmente do que assisti. Mas convenhamos: Keanu Revees dando uma de Jim Jones não convence nem põe medo em ninguém, cada vez mais canastrão. Em alguns momentos durante o primeiro ato o roteiro ameaça se desdobrar em algumas camadas bem interessantes, em outros parece não saber muito bem que rumo seguir. E, apesar de não ter conseguido me conectar profundamente com nenhum dos protagonistas, consegui me importar minimamente com o destino dos dois. Mesmo com gore pesado em algumas cenas, o tom do filme é ameno na maior parte do tempo. Curti muito a edição, e adorei toda a psicodelia contida na cena noturna do deserto. Pela narrativa pouquíssimo palatavél para o público casual, acho que muita gente vai acabar se decepcionando. Guardadas as devidas proporções, lembra um pouco algo que o Korine faria. Eu gostei, achei maneiro.
O canibalismo como uma metáfora viva da repressão e despertar sexual feminino. Com exceção de “Anticristo”, não lembro de ter visto um filme que se apropriou de forma tão original do grotesco para expor os processos violentos e opressivos aos quais as mulheres ainda são submetidas numa sociedade tão absurdamente machista e misógina. Uma vez que você percebe que Justine faz o que faz por necessidade, e não por preferência, torna-se fácil interpretar as discussões que o longa evoca. Quem assistir com o único objetivo de ver gore, não vai pescar a essência da mensagem, pois o filme vai bem além disso. Belíssima e provocativa estreia de Julia Ducournau.
Wes Anderson é um dos diretores mais interessantes, autorais e artísticos trabalhando na atualidade. Não à toa, os críticos adoram tanto seus filmes. Os Excêntricos Tenenbaums é um exemplo de uma direção impecável e uma montagem que beira a perfeição. É simplesmente surreal o domínio que Wes possui sobre a mise-en-scène. Demorou um pouco pra me pegar, mas nada que tenha comprometido a qualidade da trama. Este é meu quinto filme do diretor, e é interessante observar como a maioria de seus personagens se encontram profundamente imersos em sentimentos que oscilam entre melancolia, depressão, solidão e tédio. A loucura de uma família emocionalmente disfuncional poderia ter sido retratada de maneira extremamente comum e banal nas mãos de outro diretor qualquer, porém, convencional é tudo que este filme não é. A trilha sonora também é um espetáculo à parte. Não sei nem o que dizer, apenas sentir. Pra mim, já é um das produções mais lindas e eficientes dos últimos tempos. Pura contemplação estética.
P.s.: Muito legal ver os irmãos Wilson trabalhando juntos.
"Margot: I think we're just gonna to have to be secretly in love with each other and leave it at that, Ritchie."
Regular, mas muito divertido. Aqui, Wes já mostrava sua pira pela simetria e talento para conduzir histórias muito simples com uma versatilidade incrível. No entanto, meu maior problema com esse roteiro é o fato de que não há evolução nesse protagonista, em nenhum momento ele é confrontado e obrigado a lidar com as consequências das suas escolhas. Senti falta de uma mudança profunda que trouxesse reflexão ao espectador. Além disso, me irrita sobremaneira que as personagens femininas sejam todas unidimensionais e submissas em relação à figura masculina. Porém, a atuação do Bill Murray é o que eleva o filme a outro nível. Meu Deus, é realmente incrível como esse homem consegue ser cativante e melancolicamente engraçado sem fazer esforço algum. Schwartzman também está incrível em seu personagem insuportável, o típico rebelde sem causa. Uma curiosidade legal: O local das filmagens é o mesmo onde Wes cursou o high school. No mais, não acho Hushmore superestimado como dizem. Me diverti bastante e dei boas risadas. Mais que recomendado!
Depois do primeiro ato, tudo neste filme é terrivelmente ruim e previsivelmente patético. Não é o pior do gênero, mas se leva tão a sério que consegue se tornar detestável em todos os níveis possíveis. O típico filme que depois de uma semana você não lembra mais de nada. Destaque para o final, que consegue a proeza de piorar o que já não era bom. Fechando com chave de ouro, a última cena ainda sinaliza que vem uma franquia caça-níquel dessa coisa horrorosa por aí. Bléh!
Um porre, chato pra caralho, misógino, repetitivo, sem propósito, e chato pra caralho de novo. O filme é de péssimo mal gosto e uma completa falta de bom senso. Uma cena de violência de gênero atrás da outra, expostas de maneira gratuita somente pra chocar e desenvolver personagens masculinos desprezíveis. Um total desfavor.
Me identifiquei num nível tão pessoal que dá até vergonha.
O desajuste é da vida ou de quem se sente desajustado? April e Frank são um retrato social da vida pós-moderna, de um fenômeno que se intensificou há poucas décadas.
É doloroso ver como a personagem da Kate Winslet sofre com esse papel de "esposa perfeita", tendo que aguentar caladinha todas as consequências que essa condição traz consigo. Um retrato fiel daquela década, que perdura até os dias de hoje e subjuga mulheres de uma maneira cruel. Puro patriarcalismo. Frank não admite, mas secretamente está muito mais conformado e menos indignado com aquela vidinha provinciana do que a esposa.
O tempo todo ela parece interessada em buscar a vocação dele. Mas e com a vocação dela, quem se preocupa? Observamos no começo que seu grande sonho era atuar, no entanto, isso é deixado de lado após aquela noite desastrosa da peça. Então, é isso? Nenhuma possibilidade de descobrir outra vocação ou até mesmo continuar insistindo na atuação? Me senti imensamente angustiada por ela se anular tanto. Acho que, no fundo, a coitada não tava nem aí pra vocação de ninguém, tudo que importava era dar o fora daquele buraco o mais rápido possível e deixar de viver aquela rotina medíocre de merda. Mesmo que pra isso, tivesse que enfrentar dupla ou tripla jornada (sim, porque não imagino um homem daquela década esfregando chão e limpando bumbum de criança). Com ela trabalhando, quem cuidaria da casa e das crianças? O trabalho doméstico sempre recai em maior parte sobre a mulher, todo mundo sabe disso. Hoje em dia o sexicismo na divisão do trabalho das tarefas domésticas vem se diluindo, mas naquela época pós-guerra não era assim que funcionava. Embora esse não seja diretamente um tema discutido entre os dois, é um ponto interessante a se pensar.
A cena do café da manhã é emblemática, muito bizarra mesmo. No começo, achei que ela tentaria matá-lo de repente, enquanto o pobre comia os ovos mexidos. Só percebi suas reais intenções quando ele sai pra trabalhar e ela finalmente tira a máscara e desaba em choro. A facilidade com que ele se deixa enganar pela atuação dissimulada da esposa e acredita que está tudo bem, mesmo depois de tudo que aconteceu, é surreal. Autoenganar-se para não ter que lidar com o fato de que sua vida está ruindo. Em seguida, ela se despede dos filhos através de uma ligação.
Vi o aborto como suicídio, que ela planejou enquanto refletia no bosque depois da briga em que ambos disseram coisas terríveis um para o outro. É ali que ela desiste de tudo. Junto com o feto, também foi abortado seu próprio sonho e qualquer sopro de esperança que havia lhe restado. Pobre April, só queria mudar de vida e sair da monotonia. Mas sabemos que esse pertencimento idealizado que ela tanto almejava não existe. Três meses em Paris... e depois? Não dá pra viver fugindo, nem para mudar de vida a cada ano. Complicado.
A corretora de imóveis, interpretada pela incrível Kathy Bates, que dizia o tempo todo como o casal era especial, termina o filme falando mal dos dois e comentando com o marido o quanto sempre os achou irritante.
Só quero terminar dizendo que essa nota baixa não faz jus ao quão bom este filme é. Não consigo expressar em palavras o tanto que eu gostei desse filme, pena ser tão mal compreendido. Sem sombra de dúvidas consegue ser mais incisivo e menos maniqueísta que Beleza Americana. E o livro, escrito em 1961, tende a se tornar cada vez mais atual conforme a passagem do tempo.
"Frank: I'm not happy about it, but I have the backbone not to run away from my responsibilities."
Confesso que eu não veria este filme se ele não fosse dirigido e roteirizado por quem foi, pois desde Pearl Harbor não assisto mais romances que tenham Ben Affleck como protagonista. Questão de autopreservação cinéfila mesmo. Mas diante de tantos comentários esdrúxulos e idiotas, eu me pergunto o que as pessoas realmente esperam de um filme do Terrence Malick e da forma como ele conta suas histórias. Vocês vão assistir filme abstrato de diretor existencialista esperando plot twist e vêm aqui dizer que deu sono? Que canseira.
Nossa, que filme ruim, cara. Até quando a Sofia Coppola vai achar que cinema se sustenta de fotografia? Filme sem rumo do cacete! Não sei como uma diretora com tantas boas referências faz algo assim, bobo, inofensivo, inócuo e sem consistência, mas principalmente, pretensiosamente preenchido com uma suposta melancolia na tentativa de deixá-lo poético. Acaba sendo só irritante, e não há elenco que salve. Nem o Bill Murray, que antes de abrir a boca eu já tô rindo, conseguiu dar jeito nisso. A mensagem sobre o vazio presente nas relações interpessoais cotidianas fica clara rápido demais e depois disso você só quer que o filme acabe. Chatíssimo. É sempre um terreno arenoso quando a Sofia se mete a tentar retratar o tema "vazio existencial". Não adianta, o modo como ela aborda esse assunto não me convence, pois não acho que a mesma tenha talento suficiente para isso. Outros filmes já abordaram de maneira muito mais eficaz a solidão e isolamento do indivíduo vivendo em grandes centros urbanos. Também não gostei nada de como a cultura japonesa é exotificada no filme, quase beirando a xenofobia. Como se o ambiente e as pessoas ali fossem sempre motivo para estranheza ou ridicularização. Americanos sendo americanos. Eu, particularmente, não consegui tolerar a inépcia do roteiro. Não me conectei em nenhum nível com a história. Talvez nas mãos de outra diretora poderia ter sido bem melhor.
Será que o Lars não cansa nunca de ser um babaca megalomaníaco de merda? Senti uma puta de uma vergonha alheia daquela postura passivo-agressiva dele. Qual a necessidade daquilo?! Depoimento altamente constrangedor e dispensável.
Sem dúvida, Logan marca uma nova fase da Marvel e eleva os filmes de (anti-)heróis a outro nível. Para nós, fãs, é indescritível o sentimento de satisfação ao ver um filme que consegue esmiuçar os aspectos mais relevantes de um dos personagens mais complexos e memoráveis do universo Marvel. Hugh Jackman entrega o Wolverine que sempre sonhei em ver. Só tenho a agradecer a todos os envolvidos.
Nossa, achei muito fraquinho, arrastado e perdido demais. Apesar da história ser realmente trágica, o roteiro é pouquíssimo interessante e bastante desconexo. Acontece que em nenhum momento consegui me sentir envolvida pela atmosfera melancólica, depressiva e niilista que o filme tenta passar. Destaco negativamente a personagem Sara: que pessoa inexpressiva, chata e insuportavelmente sonsa! Argh! Isso vale para o resto dos personagens também, que são totalmente arquetípicos e interpretados por atores péssimos. Tudo fica ainda pior lá pela segunda metade do filme, quando o roteiro se perde em minúcias mais desinteressantes ainda. A única coisa que se salva aqui é a fotografia, mas não é suficiente para tornar a trama menos superficial e rasa do que ela é. Não consigo recomendar, achei tão boring que levei dias para terminá-lo. O tipo de filme que não assistiria jamais uma segunda vez.
É um problema quando você começa a se identificar com os personagens do Dolan, não é? Terminei este filme com emoções oscilando entre a completa indiferença e um incômodo latente que quase gritava através do silêncio. Definitivamente, não foi fácil. Uma das características que mais gosto em Dolan, é a forma como ele chama o espectador a se indagar sobre a passividade de seu personagem principal ao apresentá-lo, alguém que mantém-se na mais completa apatia quanto as coisas que o afeta. Como compreender esse sofrimento subjetivo e reprimido, mas latente, que visivelmente corrói e atormenta a alma daquele homem? A melhor maneira de entender todo esse sofrimento é observando a dinâmica familiar e comportamental daqueles indivíduos. Se você cair na bobagem de passar os noventa minutos tentando descobrir o motivo pelo qual Louis voltou depois de tanto tempo, vai perder o bonde, pois isso realmente não é algo que importa do ponto de vista narrativo. O filme não é sobre um membro desgarrado tentando contar uma notícia ruim para família que ele abandonou há doze anos atrás, é sobre as inúmeras tentativas feitas por ele para lidar com o doloroso fato de que ele já não sente mais nada por aquelas pessoas. São como estranhos. Em determinado momento, a inabilidade afetiva típica de famílias fragilizadas e fragmentadas se faz tão presente no ambiente, que o filme torna-se constrangedor a ponto de você se contorcer na poltrona. E é assustador perceber que, em maior ou menor escala, estamos todos inseridos num contexto tão parecido quanto. Isso é algo absurdamente contemporâneo. Imagino que o menino Dolan deva passar muito tempo na terapia.
"Antoine: Detesto escutar. Detesto conversar. Pensam que os calados são bons ouvintes, mas eu calo a boca para me deixarem em paz."
Até quando estupro será um artifício para desenvolver personagens femininas sob a justificativa de fortalecê-las emocional e fisicamente? Por que, apesar de todo debate sobre violência de gênero e cultura do estupro, esse parece ser um recurso narrativo cada vez recorrente em filmes e séries? Não entendo, sério. Para piorar, como se não bastasse aquele estupro desnecessário e completamente fora de contexto, a personagem engravida e decide ter o filho sob o argumento mais pró-vida que você respeita: o filho não deve pagar pelos erros dos pais. Really?! Que desserviço! Isso porque a diretora, Patricia Rozema, afirmou que se interessou em dirigir o longa pela representatividade feminina. Decepcionante. Ninguém precisa de mais personagens femininas desenvolvidas a partir de estupros.
A ideia em si promove a discussão e consequentemente nos leva à reflexão, mas acho que o diretor perdeu a mão nos trintas minutos finais. É um final esdrúxulo e sofrivelmente previsível, que vai de encontro a todos os valores primários passados durante o filme e quase põe tudo a perder. Pela relevância do tema abordado, não havia porque do filme ser conduzido com tamanha ausência de urgência como foi. O jogo de ética é deixado de lado em prol de um orgulho quase descabido. Certamente, a situação pela qual a protagonista passa é o tipo de situação que mexe com nossa noção de moralidade, no entanto, penso que faltou cadência para que seus atos acontecessem com mais coerência e menos condescendência. Vale a pena pela reflexão que suscita. O capitalismo altamente burocrático faz, circunstancialmente, com que nossos valores girem em torno de dinheiro, em troca de sobrevivência. O processo de degradação financeira do indivíduo acontece quase como num efeito dominó em que cada evento desencadeia outro e, em meio a tudo isso, resta-nos somente tentar sobreviver a esse modus operandi, que nos escraviza e nos forja diariamente.
Uma aula de como iniciar uma conversa com o crush da maneira correta:
– Vai falar com ela, temos tempo. – Perguntar o que pensam sobre trabalhadores em luta armada contra as classes exploradoras e as estruturas do Estado? Ou se ela é uma materialista dialética e aceita a primazia da luta de classes?
Será que vocês conseguem, por um momento, imaginar um filme que conta a história de um homem heterosexual que descobre que sente prazer em ser estuprado e começa a fazer joguinhos sexuais com seu estuprador? Ué, por que não? Vocês também sentem desejo como a gente, correto? Por que, então, um homem não poderia ter um orgasmo durante um estupro? Imagina só o alvoroço que seria uma vítima masculina de estupro gozando, enquanto leva uns tapas na cara. Uau! Mas uma mulher tudo bem, né? "Meu corpo, minhas regras", certo? Se ela gostou, quem somos nós pra julgar? Nota-se que uma fantasia doentia dessas só sairia da cabeça de um homem. É uma fantasia masculina, fomentada e incentivada pela pornografia, achar que uma mulher sentiria qualquer tipo de prazer numa violência dessas. Na cabeça dos homens, estamos sempre disponíveis para sexo, sempre com vontade, negar fogo é para as fracas, né não? Mesmo que inicialmente ela não queira, convenhamos que não dá pra resistir aos encantos de um belo pau de um desconhecido tentando te violar enquanto te espanca gostoso, vocês não acham?
O mundo está mudando, amores. Empoderamento masculino também é uma realidade. Homens empoderados de verdade não precisam mais esconder suas vontades ocultas de ser enrabados nem se colocar nesse papel de vítima, eles invertem o jogo a seu favor e tomam o controle da situação.
Este é um filme sobre as consequências de não conseguir (se)perdoar e uma demonstração dolorosa do que acontece quando a dor do luto nos esmaga o peito e tira nosso fôlego.
Nietzsche dizia que se você olha muito tempo para o abismo, ele te olha de volta. E é ao voltar para aquela cidade e se deparando novamente com seus próprios abismos internos, que Lee se vê escorregando em direção a um abismo que pode, decisivamente, engoli-lo de vez. Aliás, o maior trunfo aqui está na forma como o diretor decide contar sua história, além da excelente construção de seus personagens, especialmente Lee. Casey Affleck conseguiu dar vida a um homem completamente danificado, calejado e petrificado pela tristeza e culpa que carrega dentro de si. A carga emocional entre ele e a personagem da Michelle Williams chega a ser palpável, tudo graças aos bons diálogos e a boa química dos atores.
Acho que entender a atmosfera amarga do filme em sua totalidade dependerá do quão próximo dessa realidade o espectador está ou já esteve alguma vez. Não, não estou dizendo que o filme "não é para todo mundo", pois odeio essa expressão presunçosa e rasteira. Maaaas, porém, no entanto, creio fortemente que o atual momento de vida de quem assistirá será crucial para que se consiga capitar toda consternação dos personagens. Estar no mesmo estado de angústia que os protagonistas te fará compreendê-los num outro nível. Não é o tipo de filme que vai te arrancar lágrimas com cenas melodramáticas ou qualquer recurso narrativo barato geralmente usados para arrancar lágrimas do espectador, o roteiro aqui não te oferece maniqueísmos ou questões fáceis. A grandeza dessa obra reside na sutileza de um roteiro extremamente humano e nas reflexões que ele nos traz. À medida que uma certa melancolia generalizada se instala na trama, tornar-se inevitável não pensar sobre a solidão e suas facetas mais aterrorizantes; não somente a dos personagens, mas a nossa própria. O sentimento transpassado é de que, por mais sem sentido, funesta e destituída de alegria que a vida tenha se tornado, ela não para nem desacelera para ninguém. De uma forma ou de outra, mesmo em meio à dor, temos que seguir em frente. A lição que me ficou é que, eventualmente, a vida tirará algo de você. Somos invadidos pela sensação de autoreflexão quase involuntária de que a vida é difícil para qualquer um e este mundo não é fácil para ninguém.
Um filme devastador, e um dos mais belos que já vi. Não achei que me identificaria tanto. O modo como este filme me afetou era algo pelo qual eu não esperava. Saí do cinema com um gosto amargo na boca. DEVE ser visto.
"Randi Chandler: I said a lot of terrible things to you. My heart was broken, and I know yours is broken, too."
David Lynch: A Vida de Um Artista
4.0 45Lendo os comentários, percebe-se que o pessoal de fato não entendeu a proposta do documentário. Pelo visto, esperavam explicações sobre os trabalhos cinematográficos dele; afinal, é o que o subtítulo sugere. Francamente, acho que alguns fãs ainda esperam algo que Lynch já afirmou inúmeras vezes não estar disposto a dar: explicações mastigadas. Meio ingênuo, né?
O grande mérito do doc é justamente não cair nas tentações de se utilizar dos filmes famosos do diretor como elementos da narrativa. É simplesmente sensacional quando, por exemplo, a estrutura organiza harmonicamente passagens perturbadoras de sua vida com imagens de pinturas mais perturbadoras ainda. Só eleva coerência do que está sendo dito.
Ainda assim, muita coisa aqui diz mais sobre a gênese de seu cinema experimental do que uma mera análise superficial pode proporcionar. Ligando os pontos certos, dá pra sacar o quanto as histórias que ele nos conta são reveladoras.
Não é difícil imaginar que a visão (sonho, pesadelo, delírio?) bisonha de uma mulher nua, ensanguentada e perambulando durante a noite pela rua, anos depois serviria de inspiração para a criação da personagem de Isabella Rossellini em Blue Velvet.
Lynch não julga suas interpretações dos filmes acima das do espectador. Sua arte fala por si só, e sempre admirei isso. Destrinchar um filme desse jeito, comprometeria não só grande parte do teor de subjetividade que ele carrega, como também o livre pensar de quem assiste.
Não quero dizer, com isso, que o fato dele não fazer essa acepção signifique que não há uma intenção artística que antecede a obra - provavelmente há. Mas quando se trata de Lynch, a parada é muito mais sobre as sensações que aquilo te provoca do que sobre o que você consegue entender racionalmente.
Ouvi dizer que ele, que não é nenhum pouco chegado a entrevistas, aceitou a ideia de participar do projeto para que sua filha, Lula, até então com quatro anos, pudesse ter uma espécie de recordação da história de vida do pai, narrada por ele mesmo. Parece que o velhinho não faz muita coisa no dia a dia além de pintar e brincar com a pequenina. O que vi foi um homem que pinta solitária e intensamente, uma pessoa estranhamente apática com relação ao mundo que vivemos.
Gosto da imagem dele contemplando o vazio em meio a uma nuvem de fumaça, mas não me parece a mesma figura que um dia chegou a assustar o próprio pai.
“David, I don't think you should have children.”
Não só teve, como ela herdou o talento pai, hahaha.
Vida longa a uma das vozes autorais mais reconhecidas e fascinantes da sétima arte!!!
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraCinco minutos de Rooney Mara punindo a si mesma com uma torta pra te fazer refletir sobre o passado e o quão difícil é mantê-lo vivo.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista AgoraEdgar Wright não tem filme ruim. No final das contas, a Marvel acabou fazendo um favor tirando ele da parada.
Amores Canibais
2.4 393 Assista AgoraPira louquíssima. Gostando ou não, é uma perspectiva diferente de como se daria a decadência moral da sociedade em um contexto pós-apocalíptico. Mesmo sem ter pescado totalmente a real proposta da coisa, gostei razoavelmente do que assisti. Mas convenhamos: Keanu Revees dando uma de Jim Jones não convence nem põe medo em ninguém, cada vez mais canastrão. Em alguns momentos durante o primeiro ato o roteiro ameaça se desdobrar em algumas camadas bem interessantes, em outros parece não saber muito bem que rumo seguir. E, apesar de não ter conseguido me conectar profundamente com nenhum dos protagonistas, consegui me importar minimamente com o destino dos dois. Mesmo com gore pesado em algumas cenas, o tom do filme é ameno na maior parte do tempo. Curti muito a edição, e adorei toda a psicodelia contida na cena noturna do deserto. Pela narrativa pouquíssimo palatavél para o público casual, acho que muita gente vai acabar se decepcionando. Guardadas as devidas proporções, lembra um pouco algo que o Korine faria.
Eu gostei, achei maneiro.
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista Agora“I told myself any experience is better than no experience.”
Grave
3.4 1,1KO canibalismo como uma metáfora viva da repressão e despertar sexual feminino. Com exceção de “Anticristo”, não lembro de ter visto um filme que se apropriou de forma tão original do grotesco para expor os processos violentos e opressivos aos quais as mulheres ainda são submetidas numa sociedade tão absurdamente machista e misógina. Uma vez que você percebe que Justine faz o que faz por necessidade, e não por preferência, torna-se fácil interpretar as discussões que o longa evoca. Quem assistir com o único objetivo de ver gore, não vai pescar a essência da mensagem, pois o filme vai bem além disso.
Belíssima e provocativa estreia de Julia Ducournau.
Os Excêntricos Tenenbaums
4.1 856 Assista AgoraWes Anderson é um dos diretores mais interessantes, autorais e artísticos trabalhando na atualidade. Não à toa, os críticos adoram tanto seus filmes. Os Excêntricos Tenenbaums é um exemplo de uma direção impecável e uma montagem que beira a perfeição. É simplesmente surreal o domínio que Wes possui sobre a mise-en-scène. Demorou um pouco pra me pegar, mas nada que tenha comprometido a qualidade da trama. Este é meu quinto filme do diretor, e é interessante observar como a maioria de seus personagens se encontram profundamente imersos em sentimentos que oscilam entre melancolia, depressão, solidão e tédio. A loucura de uma família emocionalmente disfuncional poderia ter sido retratada de maneira extremamente comum e banal nas mãos de outro diretor qualquer, porém, convencional é tudo que este filme não é. A trilha sonora também é um espetáculo à parte. Não sei nem o que dizer, apenas sentir.
Pra mim, já é um das produções mais lindas e eficientes dos últimos tempos. Pura contemplação estética.
P.s.: Muito legal ver os irmãos Wilson trabalhando juntos.
"Margot: I think we're just gonna to have to be secretly in love with each other and leave it at that, Ritchie."
Três é Demais
3.8 274 Assista AgoraRegular, mas muito divertido. Aqui, Wes já mostrava sua pira pela simetria e talento para conduzir histórias muito simples com uma versatilidade incrível. No entanto, meu maior problema com esse roteiro é o fato de que não há evolução nesse protagonista, em nenhum momento ele é confrontado e obrigado a lidar com as consequências das suas escolhas. Senti falta de uma mudança profunda que trouxesse reflexão ao espectador. Além disso, me irrita sobremaneira que as personagens femininas sejam todas unidimensionais e submissas em relação à figura masculina. Porém, a atuação do Bill Murray é o que eleva o filme a outro nível. Meu Deus, é realmente incrível como esse homem consegue ser cativante e melancolicamente engraçado sem fazer esforço algum. Schwartzman também está incrível em seu personagem insuportável, o típico rebelde sem causa.
Uma curiosidade legal: O local das filmagens é o mesmo onde Wes cursou o high school.
No mais, não acho Hushmore superestimado como dizem. Me diverti bastante e dei boas risadas.
Mais que recomendado!
A Vida Marinha com Steve Zissou
3.8 454 Assista AgoraUm filme que tem os planos do Wes Anderson e o Seu Jorge cantando Bowie em português, não precisa de indicação.
A Autópsia
3.3 1,0K Assista AgoraDepois do primeiro ato, tudo neste filme é terrivelmente ruim e previsivelmente patético. Não é o pior do gênero, mas se leva tão a sério que consegue se tornar detestável em todos os níveis possíveis. O típico filme que depois de uma semana você não lembra mais de nada. Destaque para o final, que consegue a proeza de piorar o que já não era bom. Fechando com chave de ouro, a última cena ainda sinaliza que vem uma franquia caça-níquel dessa coisa horrorosa por aí. Bléh!
Amaldiçoada
3.8 372 Assista AgoraUm porre, chato pra caralho, misógino, repetitivo, sem propósito, e chato pra caralho de novo. O filme é de péssimo mal gosto e uma completa falta de bom senso. Uma cena de violência de gênero atrás da outra, expostas de maneira gratuita somente pra chocar e desenvolver personagens masculinos desprezíveis. Um total desfavor.
O Verão da Minha Vida
3.7 592 Assista AgoraNem sei o que dizer de tantos comentários romantizando uma produção machista e objetificante dessa. Muito nojento.
P.s.: O Steve Carell assinou um contrato em branco? Puta que pariu!
Foi Apenas um Sonho
3.6 1,3K Assista AgoraMe identifiquei num nível tão pessoal que dá até vergonha.
O desajuste é da vida ou de quem se sente desajustado? April e Frank são um retrato social da vida pós-moderna, de um fenômeno que se intensificou há poucas décadas.
Alguns pontos:
É doloroso ver como a personagem da Kate Winslet sofre com esse papel de "esposa perfeita", tendo que aguentar caladinha todas as consequências que essa condição traz consigo. Um retrato fiel daquela década, que perdura até os dias de hoje e subjuga mulheres de uma maneira cruel. Puro patriarcalismo. Frank não admite, mas secretamente está muito mais conformado e menos indignado com aquela vidinha provinciana do que a esposa.
O tempo todo ela parece interessada em buscar a vocação dele. Mas e com a vocação dela, quem se preocupa? Observamos no começo que seu grande sonho era atuar, no entanto, isso é deixado de lado após aquela noite desastrosa da peça. Então, é isso? Nenhuma possibilidade de descobrir outra vocação ou até mesmo continuar insistindo na atuação? Me senti imensamente angustiada por ela se anular tanto. Acho que, no fundo, a coitada não tava nem aí pra vocação de ninguém, tudo que importava era dar o fora daquele buraco o mais rápido possível e deixar de viver aquela rotina medíocre de merda. Mesmo que pra isso, tivesse que enfrentar dupla ou tripla jornada (sim, porque não imagino um homem daquela década esfregando chão e limpando bumbum de criança). Com ela trabalhando, quem cuidaria da casa e das crianças? O trabalho doméstico sempre recai em maior parte sobre a mulher, todo mundo sabe disso. Hoje em dia o sexicismo na divisão do trabalho das tarefas domésticas vem se diluindo, mas naquela época pós-guerra não era assim que funcionava. Embora esse não seja diretamente um tema discutido entre os dois, é um ponto interessante a se pensar.
A cena do café da manhã é emblemática, muito bizarra mesmo. No começo, achei que ela tentaria matá-lo de repente, enquanto o pobre comia os ovos mexidos. Só percebi suas reais intenções quando ele sai pra trabalhar e ela finalmente tira a máscara e desaba em choro. A facilidade com que ele se deixa enganar pela atuação dissimulada da esposa e acredita que está tudo bem, mesmo depois de tudo que aconteceu, é surreal. Autoenganar-se para não ter que lidar com o fato de que sua vida está ruindo.
Em seguida, ela se despede dos filhos através de uma ligação.
Vi o aborto como suicídio, que ela planejou enquanto refletia no bosque depois da briga em que ambos disseram coisas terríveis um para o outro. É ali que ela desiste de tudo. Junto com o feto, também foi abortado seu próprio sonho e qualquer sopro de esperança que havia lhe restado. Pobre April, só queria mudar de vida e sair da monotonia. Mas sabemos que esse pertencimento idealizado que ela tanto almejava não existe. Três meses em Paris... e depois? Não dá pra viver fugindo, nem para mudar de vida a cada ano. Complicado.
A corretora de imóveis, interpretada pela incrível Kathy Bates, que dizia o tempo todo como o casal era especial, termina o filme falando mal dos dois e comentando com o marido o quanto sempre os achou irritante.
Só quero terminar dizendo que essa nota baixa não faz jus ao quão bom este filme é. Não consigo expressar em palavras o tanto que eu gostei desse filme, pena ser tão mal compreendido. Sem sombra de dúvidas consegue ser mais incisivo e menos maniqueísta que Beleza Americana.
E o livro, escrito em 1961, tende a se tornar cada vez mais atual conforme a passagem do tempo.
"Frank: I'm not happy about it, but I have the backbone not to run away from my responsibilities."
Amor Pleno
3.0 558Confesso que eu não veria este filme se ele não fosse dirigido e roteirizado por quem foi, pois desde Pearl Harbor não assisto mais romances que tenham Ben Affleck como protagonista. Questão de autopreservação cinéfila mesmo. Mas diante de tantos comentários esdrúxulos e idiotas, eu me pergunto o que as pessoas realmente esperam de um filme do Terrence Malick e da forma como ele conta suas histórias. Vocês vão assistir filme abstrato de diretor existencialista esperando plot twist e vêm aqui dizer que deu sono? Que canseira.
Encontros e Desencontros
3.8 1,7K Assista AgoraNossa, que filme ruim, cara. Até quando a Sofia Coppola vai achar que cinema se sustenta de fotografia? Filme sem rumo do cacete! Não sei como uma diretora com tantas boas referências faz algo assim, bobo, inofensivo, inócuo e sem consistência, mas principalmente, pretensiosamente preenchido com uma suposta melancolia na tentativa de deixá-lo poético. Acaba sendo só irritante, e não há elenco que salve. Nem o Bill Murray, que antes de abrir a boca eu já tô rindo, conseguiu dar jeito nisso. A mensagem sobre o vazio presente nas relações interpessoais cotidianas fica clara rápido demais e depois disso você só quer que o filme acabe. Chatíssimo.
É sempre um terreno arenoso quando a Sofia se mete a tentar retratar o tema "vazio existencial". Não adianta, o modo como ela aborda esse assunto não me convence, pois não acho que a mesma tenha talento suficiente para isso. Outros filmes já abordaram de maneira muito mais eficaz a solidão e isolamento do indivíduo vivendo em grandes centros urbanos.
Também não gostei nada de como a cultura japonesa é exotificada no filme, quase beirando a xenofobia. Como se o ambiente e as pessoas ali fossem sempre motivo para estranheza ou ridicularização. Americanos sendo americanos.
Eu, particularmente, não consegui tolerar a inépcia do roteiro. Não me conectei em nenhum nível com a história. Talvez nas mãos de outra diretora poderia ter sido bem melhor.
A cena do beijo foi tão nonsense, desconexa e desnecessária que eu nem fiquei curiosa em saber o que ele sussurrou no ouvido dela.
"Bob: The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you."
Invadindo Bergman
4.1 20Será que o Lars não cansa nunca de ser um babaca megalomaníaco de merda? Senti uma puta de uma vergonha alheia daquela postura passivo-agressiva dele. Qual a necessidade daquilo?! Depoimento altamente constrangedor e dispensável.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraSem dúvida, Logan marca uma nova fase da Marvel e eleva os filmes de (anti-)heróis a outro nível. Para nós, fãs, é indescritível o sentimento de satisfação ao ver um filme que consegue esmiuçar os aspectos mais relevantes de um dos personagens mais complexos e memoráveis do universo Marvel. Hugh Jackman entrega o Wolverine que sempre sonhei em ver. Só tenho a agradecer a todos os envolvidos.
Bridgend
2.8 25Nossa, achei muito fraquinho, arrastado e perdido demais. Apesar da história ser realmente trágica, o roteiro é pouquíssimo interessante e bastante desconexo. Acontece que em nenhum momento consegui me sentir envolvida pela atmosfera melancólica, depressiva e niilista que o filme tenta passar. Destaco negativamente a personagem Sara: que pessoa inexpressiva, chata e insuportavelmente sonsa! Argh! Isso vale para o resto dos personagens também, que são totalmente arquetípicos e interpretados por atores péssimos. Tudo fica ainda pior lá pela segunda metade do filme, quando o roteiro se perde em minúcias mais desinteressantes ainda.
A única coisa que se salva aqui é a fotografia, mas não é suficiente para tornar a trama menos superficial e rasa do que ela é.
Não consigo recomendar, achei tão boring que levei dias para terminá-lo. O tipo de filme que não assistiria jamais uma segunda vez.
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista AgoraÉ um problema quando você começa a se identificar com os personagens do Dolan, não é? Terminei este filme com emoções oscilando entre a completa indiferença e um incômodo latente que quase gritava através do silêncio. Definitivamente, não foi fácil.
Uma das características que mais gosto em Dolan, é a forma como ele chama o espectador a se indagar sobre a passividade de seu personagem principal ao apresentá-lo, alguém que mantém-se na mais completa apatia quanto as coisas que o afeta. Como compreender esse sofrimento subjetivo e reprimido, mas latente, que visivelmente corrói e atormenta a alma daquele homem? A melhor maneira de entender todo esse sofrimento é observando a dinâmica familiar e comportamental daqueles indivíduos. Se você cair na bobagem de passar os noventa minutos tentando descobrir o motivo pelo qual Louis voltou depois de tanto tempo, vai perder o bonde, pois isso realmente não é algo que importa do ponto de vista narrativo.
O filme não é sobre um membro desgarrado tentando contar uma notícia ruim para família que ele abandonou há doze anos atrás, é sobre as inúmeras tentativas feitas por ele para lidar com o doloroso fato de que ele já não sente mais nada por aquelas pessoas. São como estranhos. Em determinado momento, a inabilidade afetiva típica de famílias fragilizadas e fragmentadas se faz tão presente no ambiente, que o filme torna-se constrangedor a ponto de você se contorcer na poltrona. E é assustador perceber que, em maior ou menor escala, estamos todos inseridos num contexto tão parecido quanto. Isso é algo absurdamente contemporâneo.
Imagino que o menino Dolan deva passar muito tempo na terapia.
"Antoine: Detesto escutar. Detesto conversar. Pensam que os calados são bons ouvintes, mas eu calo a boca para me deixarem em paz."
No Escuro da Floresta
3.1 191 Assista AgoraAté quando estupro será um artifício para desenvolver personagens femininas sob a justificativa de fortalecê-las emocional e fisicamente? Por que, apesar de todo debate sobre violência de gênero e cultura do estupro, esse parece ser um recurso narrativo cada vez recorrente em filmes e séries?
Não entendo, sério. Para piorar, como se não bastasse aquele estupro desnecessário e completamente fora de contexto, a personagem engravida e decide ter o filho sob o argumento mais pró-vida que você respeita: o filho não deve pagar pelos erros dos pais.
Really?! Que desserviço! Isso porque a diretora, Patricia Rozema, afirmou que se interessou em dirigir o longa pela representatividade feminina. Decepcionante. Ninguém precisa de mais personagens femininas desenvolvidas a partir de estupros.
A Lição
3.9 26 Assista AgoraA ideia em si promove a discussão e consequentemente nos leva à reflexão, mas acho que o diretor perdeu a mão nos trintas minutos finais. É um final esdrúxulo e sofrivelmente previsível, que vai de encontro a todos os valores primários passados durante o filme e quase põe tudo a perder. Pela relevância do tema abordado, não havia porque do filme ser conduzido com tamanha ausência de urgência como foi. O jogo de ética é deixado de lado em prol de um orgulho quase descabido. Certamente, a situação pela qual a protagonista passa é o tipo de situação que mexe com nossa noção de moralidade, no entanto, penso que faltou cadência para que seus atos acontecessem com mais coerência e menos condescendência.
Vale a pena pela reflexão que suscita.
O capitalismo altamente burocrático faz, circunstancialmente, com que nossos valores girem em torno de dinheiro, em troca de sobrevivência. O processo de degradação financeira do indivíduo acontece quase como num efeito dominó em que cada evento desencadeia outro e, em meio a tudo isso, resta-nos somente tentar sobreviver a esse modus operandi, que nos escraviza e nos forja diariamente.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraUma aula de como iniciar uma conversa com o crush da maneira correta:
– Vai falar com ela, temos tempo.
– Perguntar o que pensam sobre trabalhadores em luta armada contra as classes exploradoras e as estruturas do Estado? Ou se ela é uma materialista dialética e aceita a primazia da luta de classes?
Elle
3.8 886Será que vocês conseguem, por um momento, imaginar um filme que conta a história de um homem heterosexual que descobre que sente prazer em ser estuprado e começa a fazer joguinhos sexuais com seu estuprador? Ué, por que não? Vocês também sentem desejo como a gente, correto? Por que, então, um homem não poderia ter um orgasmo durante um estupro? Imagina só o alvoroço que seria uma vítima masculina de estupro gozando, enquanto leva uns tapas na cara. Uau!
Mas uma mulher tudo bem, né? "Meu corpo, minhas regras", certo? Se ela gostou, quem somos nós pra julgar?
Nota-se que uma fantasia doentia dessas só sairia da cabeça de um homem. É uma fantasia masculina, fomentada e incentivada pela pornografia, achar que uma mulher sentiria qualquer tipo de prazer numa violência dessas. Na cabeça dos homens, estamos sempre disponíveis para sexo, sempre com vontade, negar fogo é para as fracas, né não? Mesmo que inicialmente ela não queira, convenhamos que não dá pra resistir aos encantos de um belo pau de um desconhecido tentando te violar enquanto te espanca gostoso, vocês não acham?
O mundo está mudando, amores. Empoderamento masculino também é uma realidade. Homens empoderados de verdade não precisam mais esconder suas vontades ocultas de ser enrabados nem se colocar nesse papel de vítima, eles invertem o jogo a seu favor e tomam o controle da situação.
LIBERTEM-SE! :)
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraEste é um filme sobre as consequências de não conseguir (se)perdoar e uma demonstração dolorosa do que acontece quando a dor do luto nos esmaga o peito e tira nosso fôlego.
Nietzsche dizia que se você olha muito tempo para o abismo, ele te olha de volta. E é ao voltar para aquela cidade e se deparando novamente com seus próprios abismos internos, que Lee se vê escorregando em direção a um abismo que pode, decisivamente, engoli-lo de vez.
Aliás, o maior trunfo aqui está na forma como o diretor decide contar sua história, além da excelente construção de seus personagens, especialmente Lee. Casey Affleck conseguiu dar vida a um homem completamente danificado, calejado e petrificado pela tristeza e culpa que carrega dentro de si. A carga emocional entre ele e a personagem da Michelle Williams chega a ser palpável, tudo graças aos bons diálogos e a boa química dos atores.
Acho que entender a atmosfera amarga do filme em sua totalidade dependerá do quão próximo dessa realidade o espectador está ou já esteve alguma vez.
Não, não estou dizendo que o filme "não é para todo mundo", pois odeio essa expressão presunçosa e rasteira. Maaaas, porém, no entanto, creio fortemente que o atual momento de vida de quem assistirá será crucial para que se consiga capitar toda consternação dos personagens. Estar no mesmo estado de angústia que os protagonistas te fará compreendê-los num outro nível. Não é o tipo de filme que vai te arrancar lágrimas com cenas melodramáticas ou qualquer recurso narrativo barato geralmente usados para arrancar lágrimas do espectador, o roteiro aqui não te oferece maniqueísmos ou questões fáceis. A grandeza dessa obra reside na sutileza de um roteiro extremamente humano e nas reflexões que ele nos traz. À medida que uma certa melancolia generalizada se instala na trama, tornar-se inevitável não pensar sobre a solidão e suas facetas mais aterrorizantes; não somente a dos personagens, mas a nossa própria.
O sentimento transpassado é de que, por mais sem sentido, funesta e destituída de alegria que a vida tenha se tornado, ela não para nem desacelera para ninguém. De uma forma ou de outra, mesmo em meio à dor, temos que seguir em frente. A lição que me ficou é que, eventualmente, a vida tirará algo de você. Somos invadidos pela sensação de autoreflexão quase involuntária de que a vida é difícil para qualquer um e este mundo não é fácil para ninguém.
Um filme devastador, e um dos mais belos que já vi. Não achei que me identificaria tanto. O modo como este filme me afetou era algo pelo qual eu não esperava. Saí do cinema com um gosto amargo na boca.
DEVE ser visto.
"Randi Chandler: I said a lot of terrible things to you. My heart was broken, and I know yours is broken, too."