Jeferson Balbueno

Na primeira vez, entendemos que a mulher que aparece nos filmes é a mulher que Molina gostaria de ser: luxuosa, talentosa, bela e estonteante. Ela se apaixona por um nazista, mas isso é um mero detalhe numa história de amor. Isso porque a Luisa Molina do início do história realmente não se importa com a política, apenas quer viver de sua arte e do amor. O segundo filme, da Mulher Aranha, Molina já está modificada pelo sentimento que tem por Valentin e então é a mulher que está ali para prender o homem em sua teia, mas acaba apaixonando-se por ele e cuidando daquele que deveria ser sua vítima.

No final, ambos morrem mas podem viver em espírito juntos no cenário paradisíaco de seu filme. Afinal, se Molina é a mulher, em espírito faz sentido que ele se mostre como a mulher que gostaria de ser na vida real e fique junto de seu amado, Valentin.

Na segunda vez que vi, dei-me conta do seguinte detalhe: quando Molina está descrevendo pela primeira vez a mulher de seu filme, ela a descreve como tendo "olhos verdes" e Valentin contesta dizendo que "não, ela tem olhos escuros". Depois descobrimos que Molina é a mulher de olhos verdes e Marta é a mulher de olhos escuros.

Ou seja, a mulher é idealizada por Molina, mas a representação que vemos em tela ocorre na mente de Valentin que, por sua vez, imagina a mulher de referência da sua vida: Marta (interpretada por Sônia Braga). Isso justifica por que Sônia interpreta as mulheres do filme, mas também o interesse amoroso de Valentin.

Essa percepção modifica o entendimento final: quando Valentin toma morfina pós tortura, é Marta que aparece para levá-lo dali. Ela não está com as roupas da mulher aranha. Quando Valentin pergunta sobre Molina, ela responde que "apenas ele (Molina) sabe se morreu feliz ou triste". Nessa interpretação do final, Valentin e Molina não ficaram juntos num pós morte.

Ainda assim, o final parece bastante poético. Molina morreu porque seguiu o amor em seu coração quando foi correspondido. É um fim triste ser assassinado, mas feliz ao mesmo tempo porque ele viveu o amor que tanto sonhava. Valentin, por outro lado, que temia ter uma morte amarga e dolorida na cadeia, também teve um escape de felicidade pelos filmes de Molina e morreu em paz. Ambos tinham finais trágicos traçados, mas a experiência de um com o outro aliviou suas tragédias pessoais e tornou seus finais mais belos e felizes, apesar do contexto de violência em que ambos morreram.