Henggo

Um documentário leve como Seu Léo Batista. Excelente.

Eu fui assistindo, vendo a montagem desse quebra-cabeça, e ficando mais e mais abismado. O mãos bizarro é que podemos pegar esse documentário (parte dele) agora para contar nossa própri história brasileira. Achei bem construído e embasado. Senti falta, porém, de falarem sobre um ponto central que veio na onda de toda esse descontrole que foi a chamada "Primavera Árabe", ocorrida alieum pouco depois do Ocupe Wall Street. Isso sem contar que não gostei do final. Pareceu que tentaram arrematar com uma mensagem edificante ao estilo "agora, depois dos erros, chegou a hora de evoluirmos!". Com a corrida pela o inteligência artificial, o surgimento de redes como o TikTok e a onda ainda maior de desinformação, infelizmente, a tendência é as coisas se deterioram mãos ainda. Porém, pelo menos sabemos a loucura que é isso tudo, de onde veio e para onde ainda por afundar ainda mais. Vamos aguardar.

Achei inteligente como o diretor e os roteiristas optaram não por uma biografia desse personagem fundamental na nossa história, mas sim por extrair dele o cerne de sua luta e como Luiz Gama despertou para essa vontade de transformar a sociedade. Pensando aqui como escritor, a construção do personagem no filme, a curva de amadurecimento, o aprendizado que temos, é maravilhoso.

Eu consegui ver o crescimento do personagem.

Isso sem contar a própria construção do filme. A trilha sendo apenas pontual em certas cenas, por exemplo, me fez imergir nas emoções sem precisar de uma música que me conduzisse a isso. Foi o sentimento trazido apenas pelas atuações e pela montagem. Incrível escolha.

Sabe, um filme desse deveria estar com milhões e milhões de expectadores porque é a nossa história. E o motivo de não estar é trazido por cenas icônicas do próprio filme: fogueira de livros, o simbolismo do sapato dado a Luiz, o olhar do sacristão da igreja perante um homem preto, pés descalços contra pés calçados, a dona da casa que manda a escrava servir seu chá gole após gole.

Guardadas as devidas proporções, hoje vemos a continuidade de tudo isso com a desigualdade de acesso à educação, desigualdade social, as religiões que continuam a alimentar preconceitos, a humilhação que as pessoas pretas das comunidades periféricas passam, as "balas perdidas" que parecem sempre encontrar seus donos no corpo negro, os elevadores de serviço, olhares, preconceitos diluídos pelas esquinas.

Melhoramos, é claro. Muito. Mas, infelizmente, aquele Brasil de Luiz Gama ainda está enraizado em nós.