Katy Perry, um dos nomes de destaque da música pop e dance americana dos últimos cinco anos, revela bastidores da sua trajetória pessoal e profissional nesse documentário frufru, alegre, gay digamos (não no sentido pejorativo do termo). Como marca nítida do processo criativo da cantora, seus shows se transformam em um espetáculo visual altamente carregado, com cores berrantes e figurinos com exagerados adornos, na raiz do camp, bizarros, principalmente na turnê que a consolidou, e que é justamente o foco desse filme, “California Dreams”. No velho estilo de documentários musicais, conhecemos a vida e a obra da artista: a infância (ela era filha de pastores evangélicos e desde criança demonstrava dom para a música), a juventude, a crise no casamento com o ator Russell Brand (que durou apenas 14 meses), os shows ao redor do mundo (dentre eles em São Paulo, que registrou o maior público de toda a carreira da jovem de 28 anos), tudo entremeado por fotografias antigas, vídeos de família, entrevistas com amigos etc. São 1h30 de uma Katy Perry pra frente, bem humorada, explorando menos seus momentos difíceis. A produção não é bem cuidada, falta o lado humano e real da “personagem” (como comentei, cadê os problemas, as dúvidas, os percalços da vida?), porém serve como um meio de entretenimento para que o público saiba pelo menos o básico da cantora, que hoje continua fazendo enorme sucesso. Para se ter uma base, ela está na ativa desde 2007 com músicas que estouraram nas rádios do mundo todo, como “Firework”, “Hot n cold”, “I kissed a girl” e “California girls”, e já vendeu mais de 75 milhões de singles e quase 10 milhões de álbuns. Pela popularidade de Katy Perry, esperava-se repercussão maior nas bilheterias; o filme custou U$ 12 milhões e rendeu pouco mais que o dobro nos cinemas – e olha que estreou em quase três mil salas! Vencedor do Teen Choice desse ano, tem como diretor Dan Cutforth, o mesmo que realizou o documentário de outro cantor teen, Justin Bieber, chamado “Justin Bieber: Never say never” (2011). Cutforth ganhou tempos atrás o Primetime Emmy. Tem experiência atrás das câmeras, porém só pecou em não humanizar Katy Perry como pessoa que também sofre com dilemas e crises reais. Em DVD. Por Felipe Brida
Katy Perry: Part of me (Idem). EUA, 2012, 93 min. Documentário. Dirigido por Dan Cutforth/ Jane Lipsitz. Distribuição: Universal
Não passou nos cinemas brasileiros esse bonito drama romântico rodado em pontos turísticos de Londres, com dois atores da nova geração, que se superam na carreira que vem se fortalecendo (Anton Yelchin e Felicity Jones). O público comum sentirá falta de calor humano na história. Isto porque o novato diretor (Drake Doremus) optou por uma narrativa distanciada, fria, sem emoção ou qualquer tipo de pegada mais sentimental. O que eu achei bom, porque sai do padrão. Felicity interpreta uma estudante inglesa numa faculdade americana, sem amigos. Conhece um rapaz franzino (Yelchin), por quem se apaixona, e logo ambos começam a namorar, e pouco depois a morar juntos. Só que o casal encontrará um desafio quando o visto dela expira. Como permanecer no país? E como lidar com um possível relacionamento à distância, caso a jovem retorne para o país onde vive? Esses são alguns dos dilemas enfrentados pelos personagens, algo que culminará com um desfecho ambíguo, meio pra baixo. Vale conferir até porque são histórias de vidas comuns, de jovens em situações delicadas e que necessitam de tomada de atitudes, muitas delas vitais. Ganhou prêmios em festivais por aí, como o mais importante voltado a filmes independentes, o Sundance, nas categorias ‘grande prêmio do júri’ e ‘melhor atriz’ em 2011. Por ser um filme menor, fora do circuito comercial, até que rendeu bem nas bilheterias - custou U$ 250 mil e nos cinemas obteve U$ 3,3 milhões, ou seja, pagou-se o filme e deu lucro aos produtores. Um número expressivo, já que “Loucamente apaixonados” foi exibido em poucas dezenas de salas nos Estados Unidos. Já em DVD. Por Felipe Brida
Loucamente apaixonados (Like crazy). EUA, 2011, 90 min. Drama/ Romance. Dirigido por Drake Doremus. Distribuição: Paramount
Meryl Streep é a atriz viva mais brilhante do cinema. Versátil, espontânea, com uma naturalidade de ficar espantado. Como em "Um divã para dois", ela passa da comédia para o drama num estalo. Sabe fazer o público rir na hora certa, emocionar-se na hora certa. Com certeza a melhor da sua geração. E aqui recebeu indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz, fazendo par com outro monstro sagrado, Tommy Lee Jones, também sem a necessidade de comentários. Se a história já conhecemos de outros carnavais (novelas exploram o tema até esgotar), o brusco diferencial está exatamente na dupla central, que arrasa. Meryl é a dona de casa Kay, exaurida do monótono dia a dia, pautado em preparar o café da manhã para o marido ranzinza, Arnold (Jones) e dar conta dos afazeres domésticos. E só. Sem amigos, ela não tem vida sexual justamente por causa do esposo, que não sente falta nem de um simples beijo no rosto. Na verdade, ele tem toques, manias esquisitas e velhos traumas. Quando decide dar um basta como forma de reavivar a relação, Kay obriga Arnold a passar uma semana na idílica cidadezinha de Hope Springs, onde lá existe uma renomada clínica de terapia de casal, mantida por um médico especializado e escritor de livros da área (Carell, supercontido e discreto, sem uma careta ou macaquice sequer). Forçado, ele vai resmungando; feliz da vida, ela encara o "tratamento", tudo porque a esposa ama demais o marido e quer dar uma segunda chance à própria vida a dois. Será que haverá mudanças? O roteiro explora a fundo a tentativa de um casal em crise na esperança de dias melhores não só na parte do sexo, mas acima de tudo na de calor humano, do simples tato, da conversa banal na hora do jantar, ou seja, a rotina saudável de marido e esposa. Em tom leve, agradável, sem exageros ou resoluções forçadas. Uma fita para todos os públicos. Tem seu charme pessoal, ora faz rir ora emocionar, atores fora de série, duração curta, e lições para tirarmos proveito. É a segunda parceria de Meryl Streep com o diretor David Frankel; antes, ele dirigiu a atriz em “O diabo veste Prada” (e para constar, dirigiu também “Marley & eu”). Não deixe de assistir. Por Felipe Brida
Um divã para dois (Hope springs). EUA, 2012, 100 min. Comédia dramática. Dirigido por David Frankel. Distribuição: Imagem Filmes
Comédia romântica leve, leve, leve, água com açúcar (em doses elevadas), voltada ao público feminino e que recebeu esse ano duas indicações ao Framboesa de Ouro, os “piores do ano”, na categoria atriz coadjuvante – Brooklyn Decker e Jennifer Lopez concorrem ao prêmio-paródia do Oscar. Na verdade, uma perseguição: Brooklyn não está mal e também foi indicada ao Framboesa por “Battleship”, junto com “O que esperar...”, e esta é mais uma para a coleção de Jennifer (menos irritante que de costume). Simpática, a comédia não incomoda, traz humor sem agressividade e situações universais que identificam e aproximam as pessoas. Resultado: um olhar sutil sobre jovens casais que, de uma forma ou outra, querendo ou não, vão ter filhos. E acompanha toda a reviravolta na vida dos futuros papais e mamães. O destaque, para nós brasileiros, envolve a participação de Rodrigo Santoro. Ele faz par com Jennifer Lopez, e não fica apenas em gesticular e falar pouco como em outros filmes americanos em que atuou; aqui ele domina a cena, está maduro e pode ser considerado um protagonista (difícil definir o grau de importância dos personagens na história, porque como é um ‘filme de elenco’, em pequenos episódios entrelaçados, os atores e as atrizes entram e saem). Outros nomes conhecidos compõem o elenco, alguns sem compostura, outros exagerados: Cameron Diaz, Chris Rock, Elizabeth Banks, Anna Kendrick e Dennis Quaid. Baseado no bestseller de Heidi Murkoff, o filme tem direção de Kirk Jones, que já realizou fitas premiadas e melhores no passado, como “A fortuna de Ned” (1998) e “Estão todos bem” (2009). Nessa fita de segunda, um passatempo sem compromisso. Por Felipe Brida
O que esperar quando você está esperando (What to expect when you're expecting). EUA, 2012, 110 min. Comédia. Dirigido por Kirk Jones. Distribuição: Universal
Completou, no último dia 20, duas décadas da morte de Audrey Hepburn, a carismática atriz de Hollywood que conquistou o mundo com seu charme e ar de inocência. Nascida na Bélgica, atuou em 27 filmes, foi casada com o galã Mel Ferrer (contracenaram juntos em ‘Guerra e paz’ e tiveram uma filha), voluntária de projetos sociais e embaixadora da Unicef percorrendo países assolados pela fome. Como atriz, acumulou prêmios de monte: um Oscar e um Globo de Ouro (ambos por “A princesa e o plebeu”) e três Bafta, além de uma estrela na Calçada da Fama. Morreu aos 63 anos, de câncer, deixando um rico legado de clássicos do cinema e um inegável exemplo de vida. Durante os 40 anos de carreira, Audrey interpretou papéis de mulheres elegantes, como em “Bonequinha de luxo”, “Sabrina”, “Minha bela dama”, “Charada”, “Guerra e paz”, “Como roubar um milhão de dólares” e, claro, “A princesa e o plebeu”, seu primeiro papel principal, o de uma princesa aborrecida que se rebela contra os deveres de realeza e parte para uma vida comum. Nessa deliciosa comédia romântica, toda filmada em locações de Roma, Audrey, com apenas 24 anos, faz par com Gregory Peck (então com 37), outro lendário ator de Hollywood, na pele de um jornalista que coincidentemente terá de entrevistar a jovem princesa para uma matéria de capa. À noite tromba com ela pelas ruas, sem saber de sua identidade, e por estar embriagada, a recolhe em sua humilde casa. A partir daí o romance entre os dois aflora. A princesa e o plebeu passam um dia juntos, apaixonados, em momentos divertidos, como na famosa sequência em que andam de bicicleta pela Piazza Bocca della Verita, nos arredores do centro de Roma e da Igreja de Santa Maria in Cosmedin (foto ao lado). Um filme puro, ingênuo, cuja base da história lembra o amor proibido de Romeu e Julieta (sem as tragédias) – aqui, a princesa não poderia, em tese, casar-se com um plebeu, pelo nível de inferioridade financeira e status “ralé” do coitado!
Peck e Audrey dão o charme pela química e pela beleza fotogênica de seus rostos, assegurados pela direção caprichada do notório William Wyler (de “Ben Hur”, “Pérfida”, “Rosa da esperança” e “Horas de desespero”, e que voltou a dirigir Audrey em duas ocasiões pra frente, “Infâmia” e “Como roubar um milhão de dólares”). Além do Oscar de melhor atriz para Audrey, ganhou também os de figurino (Edith Head) e roteiro (Dalton Trumbo, por estar na lista negra do Macarthismo, acusado de comunista, não pôde assinar a história; quem levou os créditos do roteiro e também recebeu o prêmio da Academia foi seu colega escritor Ian M. Hunter). Ainda teve indicações da Academia nas categorias de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Eddie Albert, como o amigo fotógrafo de Peck), direção de arte, fotografia em preto-e-branco e edição. Sai em DVD em nova edição, restaurada, como nova capa e um exemplar bônus com making of e especiais. Imperdível aos fãs da Sétima Arte. Por Felipe Brida
A princesa e o plebeu (Roman Holiday). EUA/Itália/Alemanha, 1953, 118 min. Comédia romântica. Dirigido por William Wyler. Distribuição: Paramount
Documentário sobre o movimento tropicalista (1967-1968), que alcançou a música, o teatro, o cinemas e as artes plásticas no Brasil, influenciado pelo Antropofagismo, pela cultura pop e pelo Concretismo.
Com roteiro didático e direção precisa do cineasta araraquarense Marcelo Machado, “Tropicália” pode ser classificado como um importante estudo sobre o movimento que inovou a cultura brasileira do fim dos anos 60. Um documentário criativo, que acompanha o difícil percurso de jovens artistas idealistas, barrados pelo Regime Militar por lançarem novas formas de pensar e conceber uma arte despojada, crítica, caótica, considerada hermética por parte do público e “subversiva” pela censura. Alguns, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, até foram exilados. Influenciou a música, o cinema e as artes plásticas, mas teve o teatro como mola propulsora do movimento, a partir da primeira encenação do espetáculo “O rei da vela”, em 1967, comandada pelo revolucionário José Celso Martinez Correa e seu teatro Oficina, que ressuscitou a peça original de Oswald de Andrade, um dos pais do Modernismo. Paralelamente acontecia o Festival de Música Popular Brasileira, promovida pela TV Record, que ajudou a amarrar os futuros tropicalistas. Tudo isto está no filme “Tropicália”, que de maneira explicativa, para leigos mesmo (quem tiver referências do Tropicalismo melhor), documenta passo a passo esse momento da história cultural do nosso país. A estrutura da narrativa faz um jogo curioso: começa com a narração dos criadores do Tropicalismo, acompanhada apenas de imagens de arquivo e vídeos antigos, e termina com todos eles aparecendo no tempo atual, em depoimentos recentes, como os músicos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Rogério Duarte e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista (ex-Mutantes). E ao longo do documentário, uma série de personalidades já falecidas enriquece a obra com suas aparições emblemáticas, como Nara Leão, Hélio Oiticica, Torquato Neto, Rogério Duprat e Glauber Rocha, misturada por trechos de produções cinematográficas rodadas na época, dentre elas “Terra em Transe”, “Câncer”, “O demiurgo”, “Opinião pública”, “Os herdeiros”, “Hitler III Mundo”, “As amorosas”, “O desafio”, “O bandido da luz vermelha”, “Ver e ouvir”, “Meteorango Kid” e “Nosferatu do Brasil”, além de cenas dos festivais de música da Record. Os que viveram a época sairão com um semblante saudosista; já as novas gerações, eis aqui uma oportunidade e tanto para conhecer o movimento tropicalista. Merece ser visto e prestigiado esse trabalho de mestre de Marcelo Machado, companheiro de faculdade e depois de trabalho do cineasta Fernando Meirelles, que produziu o documentário. Observação: “Tropicália” saiu na mesma época de outro documentário sobre o movimento tropicalista. Este segundo, intitulado “Futuro do pretérito: Tropicalismo now!”, de Ninho Moraes, foi exibido em mostras e festivais, e ainda não saiu no mercado brasileiro. Por Felipe Brida
Tropicália (Idem). Brasil/EUA/Inglaterra, 2012, 88 min. Documentário. Dirigido por Marcelo Machado. Distribuição: Imagem Filmes
"As aventuras de Pi": 11 indicações ao Oscar, dentre elas melhor filme, diretor (Ang Lee), roteiro adaptado, direção de arte (que é um primor!), trilha sonora (de Mychael Danna, que já ganhou o Globo de Ouro esse ano) e canção original ("Pi's lullaby"). Assisti ontem, fiquei apaixonado e estou com o filme até agora vibrando na mente. A relação homem-tigre, o instinto feroz do ser humano, a nossa natureza animal (e animalesca), tudo isto pulsa na obra. Imperdível.
Katy Perry - Part of Me
3.8 568 Assista AgoraKaty Perry, um dos nomes de destaque da música pop e dance americana dos últimos cinco anos, revela bastidores da sua trajetória pessoal e profissional nesse documentário frufru, alegre, gay digamos (não no sentido pejorativo do termo). Como marca nítida do processo criativo da cantora, seus shows se transformam em um espetáculo visual altamente carregado, com cores berrantes e figurinos com exagerados adornos, na raiz do camp, bizarros, principalmente na turnê que a consolidou, e que é justamente o foco desse filme, “California Dreams”.
No velho estilo de documentários musicais, conhecemos a vida e a obra da artista: a infância (ela era filha de pastores evangélicos e desde criança demonstrava dom para a música), a juventude, a crise no casamento com o ator Russell Brand (que durou apenas 14 meses), os shows ao redor do mundo (dentre eles em São Paulo, que registrou o maior público de toda a carreira da jovem de 28 anos), tudo entremeado por fotografias antigas, vídeos de família, entrevistas com amigos etc.
São 1h30 de uma Katy Perry pra frente, bem humorada, explorando menos seus momentos difíceis. A produção não é bem cuidada, falta o lado humano e real da “personagem” (como comentei, cadê os problemas, as dúvidas, os percalços da vida?), porém serve como um meio de entretenimento para que o público saiba pelo menos o básico da cantora, que hoje continua fazendo enorme sucesso. Para se ter uma base, ela está na ativa desde 2007 com músicas que estouraram nas rádios do mundo todo, como “Firework”, “Hot n cold”, “I kissed a girl” e “California girls”, e já vendeu mais de 75 milhões de singles e quase 10 milhões de álbuns.
Pela popularidade de Katy Perry, esperava-se repercussão maior nas bilheterias; o filme custou U$ 12 milhões e rendeu pouco mais que o dobro nos cinemas – e olha que estreou em quase três mil salas!
Vencedor do Teen Choice desse ano, tem como diretor Dan Cutforth, o mesmo que realizou o documentário de outro cantor teen, Justin Bieber, chamado “Justin Bieber: Never say never” (2011). Cutforth ganhou tempos atrás o Primetime Emmy. Tem experiência atrás das câmeras, porém só pecou em não humanizar Katy Perry como pessoa que também sofre com dilemas e crises reais. Em DVD. Por Felipe Brida
Katy Perry: Part of me (Idem). EUA, 2012, 93 min. Documentário. Dirigido por Dan Cutforth/ Jane Lipsitz. Distribuição: Universal
Loucamente Apaixonados
3.5 1,2K Assista AgoraNão passou nos cinemas brasileiros esse bonito drama romântico rodado em pontos turísticos de Londres, com dois atores da nova geração, que se superam na carreira que vem se fortalecendo (Anton Yelchin e Felicity Jones).
O público comum sentirá falta de calor humano na história. Isto porque o novato diretor (Drake Doremus) optou por uma narrativa distanciada, fria, sem emoção ou qualquer tipo de pegada mais sentimental. O que eu achei bom, porque sai do padrão.
Felicity interpreta uma estudante inglesa numa faculdade americana, sem amigos. Conhece um rapaz franzino (Yelchin), por quem se apaixona, e logo ambos começam a namorar, e pouco depois a morar juntos. Só que o casal encontrará um desafio quando o visto dela expira. Como permanecer no país? E como lidar com um possível relacionamento à distância, caso a jovem retorne para o país onde vive?
Esses são alguns dos dilemas enfrentados pelos personagens, algo que culminará com um desfecho ambíguo, meio pra baixo. Vale conferir até porque são histórias de vidas comuns, de jovens em situações delicadas e que necessitam de tomada de atitudes, muitas delas vitais.
Ganhou prêmios em festivais por aí, como o mais importante voltado a filmes independentes, o Sundance, nas categorias ‘grande prêmio do júri’ e ‘melhor atriz’ em 2011.
Por ser um filme menor, fora do circuito comercial, até que rendeu bem nas bilheterias - custou U$ 250 mil e nos cinemas obteve U$ 3,3 milhões, ou seja, pagou-se o filme e deu lucro aos produtores. Um número expressivo, já que “Loucamente apaixonados” foi exibido em poucas dezenas de salas nos Estados Unidos. Já em DVD. Por Felipe Brida
Loucamente apaixonados (Like crazy). EUA, 2011, 90 min. Drama/ Romance. Dirigido por Drake Doremus. Distribuição: Paramount
Um Divã Para Dois
3.5 755 Assista AgoraMeryl Streep é a atriz viva mais brilhante do cinema. Versátil, espontânea, com uma naturalidade de ficar espantado. Como em "Um divã para dois", ela passa da comédia para o drama num estalo. Sabe fazer o público rir na hora certa, emocionar-se na hora certa. Com certeza a melhor da sua geração. E aqui recebeu indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz, fazendo par com outro monstro sagrado, Tommy Lee Jones, também sem a necessidade de comentários.
Se a história já conhecemos de outros carnavais (novelas exploram o tema até esgotar), o brusco diferencial está exatamente na dupla central, que arrasa. Meryl é a dona de casa Kay, exaurida do monótono dia a dia, pautado em preparar o café da manhã para o marido ranzinza, Arnold (Jones) e dar conta dos afazeres domésticos. E só. Sem amigos, ela não tem vida sexual justamente por causa do esposo, que não sente falta nem de um simples beijo no rosto. Na verdade, ele tem toques, manias esquisitas e velhos traumas. Quando decide dar um basta como forma de reavivar a relação, Kay obriga Arnold a passar uma semana na idílica cidadezinha de Hope Springs, onde lá existe uma renomada clínica de terapia de casal, mantida por um médico especializado e escritor de livros da área (Carell, supercontido e discreto, sem uma careta ou macaquice sequer). Forçado, ele vai resmungando; feliz da vida, ela encara o "tratamento", tudo porque a esposa ama demais o marido e quer dar uma segunda chance à própria vida a dois. Será que haverá mudanças?
O roteiro explora a fundo a tentativa de um casal em crise na esperança de dias melhores não só na parte do sexo, mas acima de tudo na de calor humano, do simples tato, da conversa banal na hora do jantar, ou seja, a rotina saudável de marido e esposa. Em tom leve, agradável, sem exageros ou resoluções forçadas.
Uma fita para todos os públicos. Tem seu charme pessoal, ora faz rir ora emocionar, atores fora de série, duração curta, e lições para tirarmos proveito.
É a segunda parceria de Meryl Streep com o diretor David Frankel; antes, ele dirigiu a atriz em “O diabo veste Prada” (e para constar, dirigiu também “Marley & eu”). Não deixe de assistir. Por Felipe Brida
Um divã para dois (Hope springs). EUA, 2012, 100 min. Comédia dramática. Dirigido por David Frankel. Distribuição: Imagem Filmes
O que Esperar Quando Você Está Esperando
3.0 976 Assista AgoraComédia romântica leve, leve, leve, água com açúcar (em doses elevadas), voltada ao público feminino e que recebeu esse ano duas indicações ao Framboesa de Ouro, os “piores do ano”, na categoria atriz coadjuvante – Brooklyn Decker e Jennifer Lopez concorrem ao prêmio-paródia do Oscar. Na verdade, uma perseguição: Brooklyn não está mal e também foi indicada ao Framboesa por “Battleship”, junto com “O que esperar...”, e esta é mais uma para a coleção de Jennifer (menos irritante que de costume).
Simpática, a comédia não incomoda, traz humor sem agressividade e situações universais que identificam e aproximam as pessoas. Resultado: um olhar sutil sobre jovens casais que, de uma forma ou outra, querendo ou não, vão ter filhos. E acompanha toda a reviravolta na vida dos futuros papais e mamães.
O destaque, para nós brasileiros, envolve a participação de Rodrigo Santoro. Ele faz par com Jennifer Lopez, e não fica apenas em gesticular e falar pouco como em outros filmes americanos em que atuou; aqui ele domina a cena, está maduro e pode ser considerado um protagonista (difícil definir o grau de importância dos personagens na história, porque como é um ‘filme de elenco’, em pequenos episódios entrelaçados, os atores e as atrizes entram e saem). Outros nomes conhecidos compõem o elenco, alguns sem compostura, outros exagerados: Cameron Diaz, Chris Rock, Elizabeth Banks, Anna Kendrick e Dennis Quaid.
Baseado no bestseller de Heidi Murkoff, o filme tem direção de Kirk Jones, que já realizou fitas premiadas e melhores no passado, como “A fortuna de Ned” (1998) e “Estão todos bem” (2009). Nessa fita de segunda, um passatempo sem compromisso. Por Felipe Brida
O que esperar quando você está esperando (What to expect when you're expecting). EUA, 2012, 110 min. Comédia. Dirigido por Kirk Jones. Distribuição: Universal
A Princesa e o Plebeu
4.3 417 Assista AgoraCompletou, no último dia 20, duas décadas da morte de Audrey Hepburn, a carismática atriz de Hollywood que conquistou o mundo com seu charme e ar de inocência. Nascida na Bélgica, atuou em 27 filmes, foi casada com o galã Mel Ferrer (contracenaram juntos em ‘Guerra e paz’ e tiveram uma filha), voluntária de projetos sociais e embaixadora da Unicef percorrendo países assolados pela fome. Como atriz, acumulou prêmios de monte: um Oscar e um Globo de Ouro (ambos por “A princesa e o plebeu”) e três Bafta, além de uma estrela na Calçada da Fama.
Morreu aos 63 anos, de câncer, deixando um rico legado de clássicos do cinema e um inegável exemplo de vida.
Durante os 40 anos de carreira, Audrey interpretou papéis de mulheres elegantes, como em “Bonequinha de luxo”, “Sabrina”, “Minha bela dama”, “Charada”, “Guerra e paz”, “Como roubar um milhão de dólares” e, claro, “A princesa e o plebeu”, seu primeiro papel principal, o de uma princesa aborrecida que se rebela contra os deveres de realeza e parte para uma vida comum.
Nessa deliciosa comédia romântica, toda filmada em locações de Roma, Audrey, com apenas 24 anos, faz par com Gregory Peck (então com 37), outro lendário ator de Hollywood, na pele de um jornalista que coincidentemente terá de entrevistar a jovem princesa para uma matéria de capa. À noite tromba com ela pelas ruas, sem saber de sua identidade, e por estar embriagada, a recolhe em sua humilde casa. A partir daí o romance entre os dois aflora. A princesa e o plebeu passam um dia juntos, apaixonados, em momentos divertidos, como na famosa sequência em que andam de bicicleta pela Piazza Bocca della Verita, nos arredores do centro de Roma e da Igreja de Santa Maria in Cosmedin (foto ao lado).
Um filme puro, ingênuo, cuja base da história lembra o amor proibido de Romeu e Julieta (sem as tragédias) – aqui, a princesa não poderia, em tese, casar-se com um plebeu, pelo nível de inferioridade financeira e status “ralé” do coitado!
Peck e Audrey dão o charme pela química e pela beleza fotogênica de seus rostos, assegurados pela direção caprichada do notório William Wyler (de “Ben Hur”, “Pérfida”, “Rosa da esperança” e “Horas de desespero”, e que voltou a dirigir Audrey em duas ocasiões pra frente, “Infâmia” e “Como roubar um milhão de dólares”).
Além do Oscar de melhor atriz para Audrey, ganhou também os de figurino (Edith Head) e roteiro (Dalton Trumbo, por estar na lista negra do Macarthismo, acusado de comunista, não pôde assinar a história; quem levou os créditos do roteiro e também recebeu o prêmio da Academia foi seu colega escritor Ian M. Hunter). Ainda teve indicações da Academia nas categorias de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Eddie Albert, como o amigo fotógrafo de Peck), direção de arte, fotografia em preto-e-branco e edição.
Sai em DVD em nova edição, restaurada, como nova capa e um exemplar bônus com making of e especiais. Imperdível aos fãs da Sétima Arte. Por Felipe Brida
A princesa e o plebeu (Roman Holiday). EUA/Itália/Alemanha, 1953, 118 min. Comédia romântica. Dirigido por William Wyler. Distribuição: Paramount
Tropicália
4.1 289Documentário sobre o movimento tropicalista (1967-1968), que alcançou a música, o teatro, o cinemas e as artes plásticas no Brasil, influenciado pelo Antropofagismo, pela cultura pop e pelo Concretismo.
Com roteiro didático e direção precisa do cineasta araraquarense Marcelo Machado, “Tropicália” pode ser classificado como um importante estudo sobre o movimento que inovou a cultura brasileira do fim dos anos 60. Um documentário criativo, que acompanha o difícil percurso de jovens artistas idealistas, barrados pelo Regime Militar por lançarem novas formas de pensar e conceber uma arte despojada, crítica, caótica, considerada hermética por parte do público e “subversiva” pela censura. Alguns, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, até foram exilados.
Influenciou a música, o cinema e as artes plásticas, mas teve o teatro como mola propulsora do movimento, a partir da primeira encenação do espetáculo “O rei da vela”, em 1967, comandada pelo revolucionário José Celso Martinez Correa e seu teatro Oficina, que ressuscitou a peça original de Oswald de Andrade, um dos pais do Modernismo. Paralelamente acontecia o Festival de Música Popular Brasileira, promovida pela TV Record, que ajudou a amarrar os futuros tropicalistas. Tudo isto está no filme “Tropicália”, que de maneira explicativa, para leigos mesmo (quem tiver referências do Tropicalismo melhor), documenta passo a passo esse momento da história cultural do nosso país.
A estrutura da narrativa faz um jogo curioso: começa com a narração dos criadores do Tropicalismo, acompanhada apenas de imagens de arquivo e vídeos antigos, e termina com todos eles aparecendo no tempo atual, em depoimentos recentes, como os músicos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Rogério Duarte e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista (ex-Mutantes).
E ao longo do documentário, uma série de personalidades já falecidas enriquece a obra com suas aparições emblemáticas, como Nara Leão, Hélio Oiticica, Torquato Neto, Rogério Duprat e Glauber Rocha, misturada por trechos de produções cinematográficas rodadas na época, dentre elas “Terra em Transe”, “Câncer”, “O demiurgo”, “Opinião pública”, “Os herdeiros”, “Hitler III Mundo”, “As amorosas”, “O desafio”, “O bandido da luz vermelha”, “Ver e ouvir”, “Meteorango Kid” e “Nosferatu do Brasil”, além de cenas dos festivais de música da Record.
Os que viveram a época sairão com um semblante saudosista; já as novas gerações, eis aqui uma oportunidade e tanto para conhecer o movimento tropicalista. Merece ser visto e prestigiado esse trabalho de mestre de Marcelo Machado, companheiro de faculdade e depois de trabalho do cineasta Fernando Meirelles, que produziu o documentário.
Observação: “Tropicália” saiu na mesma época de outro documentário sobre o movimento tropicalista. Este segundo, intitulado “Futuro do pretérito: Tropicalismo now!”, de Ninho Moraes, foi exibido em mostras e festivais, e ainda não saiu no mercado brasileiro. Por Felipe Brida
Tropicália (Idem). Brasil/EUA/Inglaterra, 2012, 88 min. Documentário. Dirigido por Marcelo Machado. Distribuição: Imagem Filmes
A Hora do Lobisomem
3.5 321 Assista AgoraTambém conhecido (e exibido no Brasil) como "Bala de prata".
As Aventuras de Pi
3.9 4,4K"As aventuras de Pi": 11 indicações ao Oscar, dentre elas melhor filme, diretor (Ang Lee), roteiro adaptado, direção de arte (que é um primor!), trilha sonora (de Mychael Danna, que já ganhou o Globo de Ouro esse ano) e canção original ("Pi's lullaby").
Assisti ontem, fiquei apaixonado e estou com o filme até agora vibrando na mente. A relação homem-tigre, o instinto feroz do ser humano, a nossa natureza animal (e animalesca), tudo isto pulsa na obra. Imperdível.