Super 30 (2019)

País: Índia

Duração: 2 h e 34 min

Gêneros: Biografia, drama

Elenco Principal: Hrithik Roshan, Mrunal Thakur, Nandish Singh

Diretor: Vikas Bahl

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt7485048/


Opinião: “História fantástica, mas mal conduzida.”


Penso que o cinema de cada país – com exceções, é claro – reflete de alguma forma o seu microcosmo local trazendo toda bagagem histórica de tradições e culturas, exaltando suas qualidades e expondo à reflexão seus problemas. A Índia, como é sabido, é o segundo país mais populoso do mundo com cerca de 1,3 bilhões de habitantes – e com previsão de tomar a primeira colocação da China ainda nesta década. É de se esperar que o tamanho de sua população gere uma série de anomalias sociais, como a desigualdade, a miséria, o desemprego, etc. Nesse contexto, penso também que problemas sociais são a maior fonte de matéria-prima narrativa para o cinema – e os indianos aproveitam muito bem essa premissa, pela quantidade de filmes de sucesso produzidos que abordam tais problemas. Considero que esse é um dos motivos pelos quais o cinema indiano tem um apelo emocional tão grande, pois desnudar as dificuldades da vida e eventualmente mostrar vencedores que passam por cima de todos os obstáculos gera bastante emoção e inspiração nos espectadores. Graças ao cinema indiano temos a oportunidade de conhecer mais uma história espetacular, dramatizada a partir de um caso real, a qual é tocante e impressionante em sua essência, entretanto, dessa vez, o apelo emocional ora citado não foi tão bem trabalhado como o usual no cinema da terra dos elefantes. Minhas impressões sobre “Super 30” seguem abaixo.

Eis as sinopse: “Anand Kumar é um estudante de classe baixa apaixonado pela matemática. Após algum reconhecimento por sua inteligência, Anand recebe a oportunidade de lecionar em um centro de excelência de ensino frequentado unicamente por jovens ricos, contudo, algum tempo depois, ele percebe que jovens pobres indianos não têm oportunidade de competir em pé de igualdade com os alunos abastados aos quais ele instrui em suas aulas para obter aprovação nas principais universidades da Índia. Anand decide então abandonar seu emprego e se dedicar a ensinar 30 alunos pobres por ano para conseguir acesso ao Centro Tecnológico da Índia (IIT-JEE), no entanto, ele terá que passar por uma série de dificuldades para implementar o seu projeto social. Trata-se de um filme biográfico sobre o matemático Anand Kumar e seu projeto Super 30.”

Há um enredo fascinante, uma indústria cinematográfica especialista em desenvolver enredos com essa característica e uma celebridade de Bollywood no papel de protagonista, ou seja, há todos os elementos para a produção de mais um filme indiano inesquecível. Só que não! O filme é muito longo por se ater a um grande conjunto de temáticas ao mesmo tempo e, por vezes, perder o foco em seu fio condutor principal. Perde-se muito tempo com a exibição de uma série de nuances da vida pregressa de Anand antes de sua “decisão social”, incluindo um caso de amor malsucedido que está totalmente fora do contexto do filme, apesar de a personagem Supriya – sua amada – ter uma participação instantânea mas decisiva no desfecho da história. Os indianos adoram inserir romance em seus filmes! Mesmo quando o desafio já está posto, e, portanto, há o sentimento que o filme finalmente desenvolverá seus argumentos mais importantes com mais fluidez, há o surgimento de outros subtemas que atrapalham sobremaneira. No entanto, nada mais incômodo em se tratando de uma produção indiana do que notar que as emoções foram mal trabalhadas ao longo da exibição. “Super 30” é um filme “seco”, mesmo possuindo tudo para mexer com a alma de seu público. Muito disso coloco na conta de seu elenco. Nem mesmo Hrithik Roshan repetiu a excelência que o levou à fama, com uma atuação bem abaixo da média. O elenco coadjuvante, principalmente os jovens que interpretam os chamados super 30, parecem perdidos em alguns momentos – talvez emocionados com a presença do astro. A melhor interpretação é a do personagem Lallan Singh, o administrador do centro de excelência. Ademais, a maquiagem utilizada em Anand para escurecer sua pele é uma tragédia – até faz com que o rosto do ator brilhe na sombra.

O que salva o filme realmente é a história em si, não obstante haver um roteiro deveras irregular, com mais defeitos do que virtudes, mas, ainda assim, é possível obter uma boa experiência. Há um desfecho interessante – a única passagem realmente emocionante -, mensagens bem pertinentes, grandes exemplos de humanidade e ensino criativo, superação, união, trabalho em equipe, etc. Há a inserção de alguns recursos visuais que modernizam a obra. E, para encerrar, há uma trilha sonora competente. Apesar de haver alguns pontos de interesse, ao fim, principalmente para quem acompanha o cinema da terra dos elefantes, fica a sensação de que “Super 30” é uma produção menos rica do que o usual em se tratando de Bollywood, entretanto, como se depreende, uma boa história vale mais do que qualquer outro aspecto. Ainda assim merece uma recomendação!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.